domingo, 27 de agosto de 2017

No mundo dos neandertais

Calculo que estejam preocupados quanto baste com o plano desportivo do Benfica. Ou talvez sejam dos mais indulgentes e nada do que se está a passar mereça alarido. A mim, moderadamente pessimista, as minhas preocupações transportam-me ao que se passou este fim-de-semana em Paços de Ferreira.

Durante o intervalo do jogo que opôs Paços de Ferreira e Vitória de Guimarães, dois adeptos do Benfica, avô e neto, que se deslocaram com as cores e símbolos do seu clube à Mata Real para ver o jogo na bancada central, foram publicamente denunciados pelos adeptos vitorianos pelo "delito clubístico" e subsequentemente expulsos sob coacção verbal e física por parte dos adeptos pacences.

Pergunto-me se é este o futebol que queremos. Se queremos um futebol onde grunhos expulsam famílias. Onde a intimidação vence a ordem pública. Onde as forças de autoridade não actuam e as entidades responsáveis pela organização das provas não castigam. Onde a comunicação social não denuncia este tipo de atitudes (numa pesquisa rápida, apenas o MaisFutebol deu destaque a este triste episódio).

Se já é suficientemente selvático o que se verifica quando um adepto do Sporting ou Porto leva camisola ou cachecol do seu clube para a Luz (e o mesmo se aplica quando um adepto do Benfica leva símbolos do seu clube a Alvalade ou Dragão), é ainda mais incompreensível o que se passou ontem na Mata Real, com dois clubes com os quais o Benfica não tem qualquer rivalidade. Que as autoridades sejam céleres a multar e punir os infractores. Sob pena que os neandertais tomem conta das bancadas.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

O golo é (demasiado) embriagante

O golo, esse gesto que estabelece resultados, enriquece jogos e enlouquece multidões, quando levado ao expoente da exclusividade de um jogo, transforma banais em bestiais e génios em bestas.

Vem isto a propósito de Seferovic, a nova paixão Benfiquista. Por altura da última final da taça alemã, que opôs B. Dortmund a E. Frankfurt, e porque se falava do interesse do Benfica no jogador, fui espreitar o Suiço.

Resultado: Fiquei entusiasmado. Do que vi naquele jogo, pareceu-me um jogador exatamente à medida de Jonas, Pizzi e - espero eu - Zivkovic. Associativo, combinativo, móvel, ou seja, tudo o que uma equipa de pendor ofensivo e posse de bola gostaria de ter, tudo aquilo que os nossos melhores poderiam querer num jogador.

Problema? Quando surge a confirmação de Seferovic será jogador do Benfica, aparecem os "especialistas" cá do burgo - que do jogo entendem o mesmo que eu de arte sacra e, pior, do jogador conheciam o nome e a respectiva ficha do goalpoint - e sentenciaram: Jogador com pouco golo; Jogador sem qualidade para fazer sombra a Mitroglou; jogador inferior a Jimenez. 

De facto os números que outros recolheram e eles apresentavam, admito, eram intrigantes, sobretudo para quem, como eu, não conheciam o jogador. E, também reconheço, fizeram-me duvidar do que tinha visto, porque 90 minutos são sempre muito pouco.

E agora, quem tem/tinha razão, os números ou o que vi? Mais eu, certamente. E tenho-a não tanto pelos golos que o Suiço tem marcado, mas sim porque Seferovic é muito mais que os golos que possa marcar e disso nenhum número falará, porque o jogo será sempre muito mais que os golos que se marquem ou os passes que se acertem.
O golo é o mais visível, o mais recordável, mas não o mais importante. O golo é o único factor que nos faz achar que Ronaldo e Messi estão no mesmo patamar e que fará com que, por exemplo, Iniesta passe incógnito pelos prémios individuais, apesar de ser um dos melhores da história.

Cada jogador tem o seu enquadramento, cada jogador terá as ideias colectivas que melhor o favoreçam e será tanto melhor quanto quem o vir o souber enquadrar, porque como se comprova com Seferovic, o golo, os números escondem infinitamente mais do que revelam.

domingo, 20 de agosto de 2017

JVP, Aimar, Jonas

O futebol, enquanto desporto colectivo, é composto por jogadores com características muito diferentes. Há craques, matadores, caceteiros, jogadores de equipa, úteis polivalentes, vertiginosos, aceleras, patrões, enfim um sem-número de adjectivos. Pese embora a qualidade de jogadores como Simão, Di Maria, Gaitán e tantos outros cujos nomes ocupariam quase uma página inteira, ao longo dos últimos 25 anos lembro-me de ver apenas três jogadores que aliavam a toda a sua qualidade um toque de futebol refinado e de classe que os tornaram diferentes e especiais. Não se trata dos que mais deram o Benfica, dos que mais conquistaram, dos melhores nem sequer dos que mais gostei de ver jogar. São apenas os três que me lembro de ver que tinham um toque de bola, uma leitura de jogo e um brilho, enfim, uma classe que os colocou noutro patamar. João Pinto, Pablo Aimar e Jonas foram os três semi-deuses que envergaram a camisola do Benfica nos últimos 25 anos.

João Pinto chegou menino e viveu os melhores anos da sua carreira no período mais negro da História do Benfica. No pós-94, viu-se ano após ano rodeado por um elenco que não lhe permitiu brilhar em todo o seu esplendor de águia ao peito. Ainda assim, pelo repentismo, pelos argumentos técnicos que não se limitavam ao toque de bola e aos slaloms geniais (foi dele o melhor golo que não chegou a ser, contra a Alemanha), pelos voos de cabeça imortais, marcou uma geração de benfiquistas e fez com que muitos dos nascidos no final da década de 80 e início da década de 90 se tornassem benfiquistas por sua culpa, apesar da escassez de títulos. João Vieira Pinto, um imortal da História do Benfica.

Pablo Aimar chegou já um jogador feito. Envolto num clima de desconfiança pelo fraco rendimento desportivo nos anos que antecederam a sua chegada, além das lesões e tempos de paragem prolongados, após a libertação do futebol enfadonho de Quique Flores foi com Jorge Jesus que mais brilhou ao longo de três das épocas que passou na Luz. O que mais impressionava em Aimar, além da visão e da facilidade e simplicidade com que encarava o jogo, era a forma como orquestrava e dirigia uma equipa recheada de estrelas. Entre Di Maria, Ramires, Saviola, Cardozo, Witsel, Javi, Gaitán e Salvio, era ele que coordenava e corria o espectáculo. Provavelmente a melhor definição de classe que passou pela Luz nestes 25 anos.

Jonas. Custa crer que um dia venceu o prémio de pior avançado do mundo. Custa acreditar que foi dispensado pelo Valencia com apenas 30 anos depois de 48 golos em três temporadas em Espanha. Jonas foi absolutamente decisivo na História recente do Benfica ao ser o grande responsável pela conquista de dois campeonatos que, sem ele, muito provavelmente teriam ido para outras paragens. Técnica de remate muito acima do normal, descongestiona jogo com passes longos de primeira ao alcance de poucos e tem ainda uma qualidade que muito aprecio: tem uma vontade de ganhar muito superior à da maioria dos colegas de profissão.

sábado, 19 de agosto de 2017

O Bernardo Silva de Rui Vitória



Este miúdo é um dos dois maiores talentos que saíram do Seixal - o outro é Bernardo Silva. Incompreensivelmente, não tem tido a confiança do professor Vitória, reforçando aquilo que venho dizendo há algum tempo: ao contrário do que se diz, o professor está longe de apostar verdadeiramente nos jovens da nossa formação. As apostas surgem mais por necessidade extrema do que por verdadeira convicção. Claro que depois teve mérito na forma como manteve algumas opções mas apostar de facto nos jovens é optar por eles em detrimento de consagrados; não é apostar neles quando não há mais ninguém.

Com Samaris e Fejsa de fora, é incompreensível que o miúdo não tenha sido chamado - mesmo que Augusto fosse, como vai ser hoje, a prioridade para titular. Ja o disse em Junho e repito: Pedro Rodrigues será o Bernardo Silva de Rui Vitória.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

O processo e os ilusionistas

Desde sempre, e é uma tendência natural e generalizada, procuramos razões estanques e formulas exatas para determinar as causas e competências do sucesso/insucesso. Procuramos tornar absolutamente previsível o que, por natureza, não é passível de previsão ínfima. Porém essas fórmulas não existem e, mais vezes do que se possa julgar, métodos semelhantes em contextos diferentes dão origem a resultados completamente distintos, pois a realidade não é estanque e a vida é bem mais que um videojogo onde um algoritmo (por mais complexo que seja não deixa de ser exato e, por isso, previsível) determina quem vence e quem perde, escolhendo o que resulta e o que não resulta. 

O mesmo se passa no futebol. A maior discussão recente gera-se em torno de Rui Vitória, estando de um lado quem defenda que o treinador do Benfica, apesar de vencer, não tem um processo de jogo bem trabalhado e definido e, do outro, quem defenda exatamente o contrário, isto é, que não seria possível vencer tanto sem que tivesse ideias claras e muito concretas sobre o jogo e o que quer dele.

Pois bem, para falarmos do Benfica e de Rui Vitória, falemos, por analogia, do Real Madrid e de Zidane: Um dos melhores jogadores da história do jogo, leva menos de 2 anos no comando técnico Merengue e, nesse período de tempo, já arrecadou 2 Ligas dos Campeões, 1 Liga Espanhola, 1 Campeonato do Mundo de Clubes e 2 UEFA Supercup.

Perante isto, fica a pergunta: Zidane tem ou não o tal processo? Não! Não porque não é notória uma ideia de jogo completamente vincada e trabalhada, isto é, uma ideia que ultrapasse os jogadores de que dispõe, uma ideia que se mantenha imutável seja qual for o 11 que escolha para cada partida, uma ideia que permaneça identificável perante todo e qualquer adversário. Isto, para mim, é claro como a água e já nem está no domínio da discussão.

Mas se não tem aquilo tudo, como ganha tanto? Pela qualidade individual que tem ao dispor. Mas não há outros com qualidade semelhante e que não ganham tanto? Há, mas poucos são os que, não tendo o tal processo, têm tamanha qualidade e, sobretudo, com um perfil individual tão aproximado do colega. E, desengane-se quem pensar o contrário, com ou sem processo, quem ganha/perde a esmagadora maioria dos jogos são os jogadores.

De facto, o Real Madrid, hoje em dia, tem uma qualidade suprema ao dispor do seu treinador. Sempre teve, claro, mas talvez nunca como hoje tão bem “casada”, tão complementar quanto esta. Ter ao dispor jogadores como Isco, Kroos, Modric, Benzema, Asensio e Marcelo é mais do que meio caminho andado para se ter qualidade na hora de ganhar jogos e troféus. Estes jogadores, todos juntos, e porque têm um perfil, um ADN futebolístico tão próximo uns dos outros, chegam a fazer parecer que existem coisas onde não as há, fazem acreditar qualquer um que a esmagadora maioria das coisas feitas em campo são fruto da qualidade das ideias do seu treinador, quando na verdade, é exatamente o contrário. Estes jogadores, todos juntos, potenciam o treinador e não o inverso.

Reparem que, por exemplo, se ao 11 tipo do Real retirarmos Isco (eventualmente o elo mais fraco na cadeia alimentar que é o estatuto mediático) e lhe juntarmos Bale, todo o jogar Merengue cai abruptamente, porque Kroos e Modric deixam ter quem os ajude no controlo do jogo através da posse e das boas decisões, porque deixa de existir mais alguém, para além daqueles dois, que compreenda totalmente o futebol de Benzema e porque o número de bolas que cai nos pés de Bale e, por isso, nos pés de quem decide pessimamente, de quem vê o jogo pela correria e não pela inteligência, aumenta consideravelmente, diminuindo assim a capacidade para se assumir um jogo conexo e, aparentemente (apenas), com ideias sólidas e vincadas.

Ora, se existisse o tal processo, mesmo que se trocasse Isco por Bale as ideias permaneceriam semelhantes, embora o nível a que eram executadas fosse diferente, para pior, no caso. Mas não é isso que se passa, o que realmente acontece é uma mudança abrupta da forma de jogar de toda a equipa.

Então é Isco a peça-chave de toda a mecânica Madridista? Não. A chave está no número de jogadores com o mesmo perfil, isto é, jogadores associativos, criativos (não são dribladores) e capazes de tomar as melhores decisões na esmagadora maioria das situações.

Voltando à questão do ter ou não ter processo para se vencer, vejamos o jogo de ontem da UEFA Supercup: Man. Utd. x Real Madrid, Mourinho x Zidane, processo x ilusionistas. Quem ganhou? Quem deu um bigode de futebol? Quem pareceu ter mais e melhor processo? Exatamente quem tem menos processo e mais ilusionistas, porque quando a bola salta, um processo mau (Mourinho) frente a jogadores top (Isco, Kroos, Modric, Marcelo e Benzema) tende a correr melhor para quem quer mais alguma coisa do jogo do que só destruir.

Algo de muito semelhante, na minha opinião se tem passado no Benfica de Rui Vitória. Ter Jonas, Pizzi, Fejsa, Lindelof, Semedo, Grimaldo e Ederson é ter um número muito significativo dos tais ilusionistas, é ter um número muito alto de jogadores com o tal perfil idêntico e bem identificado: Associativo, criativo e boas decisões, três pilares base e comuns a todos eles. Um ADN tão comum e bem “casado” que nos faz ter a ilusão de que há o que nunca houve e dificilmente haverá.

É isto um grande problema? Seria se não existisse no clube quem entendesse esta dinâmica e não percebesse que, com Rui Vitória, é fundamental ter uma coisa: um ADN demarcado de jogador. E a melhor prova disso, ainda este ano, são as contratações de Seferovic e Chrien. Dois jogadores que falam o mesmo dialeto futebolístico que os nossos melhores e mais importantes.

Por isso, quando se diz que Rui Vitória não tem processo, entendam isso como uma constatação de facto e não como uma sentença de derrota. Errado não é dizer que Rui Vitória não tem processo, errado é achar que não há vitórias sem processo.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

O mono de bigode à direita



Tentar sequer explicar esta foto é passar um atestado de imbecilidade aos benfiquistas. Infelizmente, é preciso. Por onde começar? Vai em pontos, que é aquilo que o Benfica tem tido a mais do que os adversários nos últimos largos anos:

PONTO 1: Senhor Shéu só tem direito a festejar os títulos como jogador; se pudesse a eles acrescentar todos os que tem como funcionário do clube ofuscaria o mono de bigode à direita. O que naturalmente não pode ser porque o mono de bigode à direita não pode ser ofuscado.

PONTO 2: O mono de bigode à direita tem 20 títulos em 16 anos - 14 como Presidente. O que significa que, em 4 ou 5 competições por ano (3 ou 4 nacionais [dependente da introdução da Taça da Liga] e uma internacional, e portanto 70 a 75 competicões em 16 anos, o mono de bigode à direita viu o Benfica ganhar 20. Entre um terço e um quarto, portanto.

PONTO 3: O mono de bigode à direita, de 2001 a 2010, nos seus primeiros 9 anos e 7 como Presidente, viu o Benfica ganhar 4 títulos em 35/40 possíveis. Um décimo, portanto.

PONTO 4: O mono de bigode à direita mete-se ali junto às nossas glórias, à má fila, fingindo esquecer que Presidentes houve que, estando muito menos tempo na Presidência, ganharam, na relação anos/títulos, muito mais do que o mono de bigode à direita (e sem Supertaças e Taças da Liga).

PONTO 5: O mono de bigode à direita deveria ter vergonha de tirar uma foto com 4 jogadores eternos na História do Benfica porque não há muito tempo, para se justificar do insucesso desportivo de então, afirmou que "eu não dou pontapés na bola". Naturalmente, o mono de bigode à direita, se justifica os insucessos porque não dá pontapés na bola, deveria ter vergonha na cara e não aparecer junto às glórias do Benfica com uma camisola com o seu nome e os títulos conquistados.

PONTO 6: O mono de bigode à direita é o único Presidente ilegítimo da História do Benfica. O mono de bigode à direita é o único Presidente que enriqueceu brutalmente à custa do Benfica. O mono de bigode à direita é o único Presidente que apoiou, não uma mas duas vezes, um corrupto do Apito Dourado. O mono de bigode à direita é o único Presidente que viu as contas do clube serem chumbadas e não se demitir (nem segunda assembleia houve). O mono de bigode à direita é o único Presidente que antecipou eleições para não ter concorrência.

PONTO 7: Nenhum Presidente do Benfica, excluindo Damásio e Vale e Azevedo (o primeiro fazendo parte da carneirada apoiante e apoiada pelo mono de bigode à direita; o segundo tendo um Vice que actualmente é comentador-residente num programa da BenficaTV), alguma vez teria o desplante de fazer uma figura ridícula como a que está na foto, juntando-se a homens que verdadeiramente deram ao Benfica.

PONTO 8: O mono de bigode à direita, mesmo com 90 por cento dos votos em eleições, com um Tetra para calar a oposição e uma televisão e um jornal do clube que só elogiam o mono de bigode à direita, tem tanta necessidade de se vender aos benfiquistas que faz esta figura ridícula que se vê na foto.

PONTO 9: O mono de bigode à direita, se contactasse com o grupo fundador do Glorioso Sport Lisboa e Benfica, seria escorraçado de Belém para Alverca, onde então poderia falir empresas,  ser amigo pessoal de Pinto da Costa, Joaquim Oliveira, José Veiga e demais corruptos.

PONTO 10: O mono de bigode à direita só se mete mono de bigode à direita, gozando com os benfiquistas e junto às nossas glórias, porque há demasiados monos no Benfica.

domingo, 6 de agosto de 2017

Posfácio e prefácio


A época 2016/2017 ficou escrita a letras douradas na História do Sport Lisboa e Benfica. O tetracampeonato, tantas vezes tentado e outras tantas falhado pela geração de ouro do nosso clube, chegou finalmente, num percurso que se iniciou com contornos de tragédia na bota de Kelvin e que terminou em festa com uma goleada memorável frente a Vitória de Guimarães.

Neste caminho percorrido rumo ao tetra, importa recordar a forma como terminámos por ser um excelente tónico para o ataque ao penta: o Benfica ganhou porque foi melhor. Para além de todas as mudanças que se verificaram nos últimos dez anos no futebol português e das mudanças igualmente verificadas na chamada "estrutura" do Benfica, o plantel à disposição de Rui Vitória em 2016/2017 era de uma qualidade inequivocamente superior à dos rivais. Passámos de uma era na qual ser melhor não bastava. Era mandatário ser muito melhor para conseguir ganhar. Hoje, factores externos eliminados, basta ser melhor. E foi isso que o Benfica conseguiu ser no quarto ano do tetra. Melhor. Mérito aos jogadores pela sua qualidade, ao treinador e restante equipa técnica pela forma como conduziu o grupo, e à "estrutura" por ter possibilitado a matéria-prima, a estabilidade no seio do clube e o controlo dos factores externos.

Importa por isso, criada esta dinâmica de vitória, não perdê-la. Se a "estrutura" e o corpo técnico pouco ou nada mudaram, o plantel tem sido alvo de uma revolução natural face à posição que o Benfica ocupa no mercado e às necessidades financeiras que enfrenta. A reposição dos activos perdidos, neste momento, preocupa-me. As saídas de Ederson, Nelson Semedo e Lindelof não parecem devidamente colmatadas. Júlio César não parece ter a condição física para aguentar uma época inteira sem lesões e Varela oferece muitas dúvidas quanto à capacidade para assegurar a baliza de um grande. A saída de Lindelof, a meu ver a mais fácil de suprir, também não parece devidamente corrigida, pois Luisão vai evidenciando dificuldades cada vez mais óbvias no acompanhamento de adversários rápidos especialmente quando o bloco defensivo encarnado sobe no terreno, Jardel esteve praticamente um ano parado sendo que nos intervalos das lesões apresentou-se sempre a um nível que deixou a desejar e Lisandro, à beira dos 28 anos e após 4 temporadas na Europa, continua sem mostrar o posicionamento defensivo, a compostura e a regularidade necessárias para uma equipa com os objectivos do Benfica. Na direita, já se sabe há largos anos que André Almeida pode ser um jogador regular para tapar buracos mas sem a qualidade necessária para ser titular. E se Pedro Pereira era a primeira opção para o posto, a aposta saiu completamente furada pelo menos no curto-prazo, ficando igualmente por explicar como é que em oito meses de Benfica não foi chamado à equipa B para jogar e competir regularmente, em particular na segunda metade da temporada passada.

Que as sucessivas vitórias conseguidas nos últimos anos não sirvam de pretexto para o afrouxamento na qualidade do plantel e para o laxismo na construção do mesmo. Da mesma forma que nem tudo está errado quando se perde, nem tudo está certo quando se ganha. E foi também por desinvestir após um ciclo de vitórias sucessivas e domínio quase absoluto que um dos nossos maiores rivais vive, ainda hoje, a maior seca de títulos dos últimos 35 anos.

Pizzi a ser Pizzi

A finalização do Jiménez é soberba - a bola sai em redondel para o canto distante, impossível defender esse esférico louco por ser golo. Porém, antes já o golo andava vestido pela categoria de Pizzi. Tivesse o transmontano genial - como tantos jogadores fariam na mesma situação - passado de imediato, o mexicano ficaria preso, marcado,  sem soluções. Não Pizzi, esse visionário que já vê o golo segundos antes de ser golo. Segue pelo corredor, espera que os centrais se juntem e, quando já estão juntos e desequilibrados, Pizzi sem olhar mete a bola corrida e tensa em Jiménez. Parece fácil mas é difícil, o grande futebol quase sempre depende de segundos. Ser tão bom não é para todos. Que ninguém tenha a péssima ideia de vir buscar o super-8 e nos estragar o Penta.

 https://m.youtube.com/watch?v=WzmwMhO_prI

sábado, 5 de agosto de 2017

Balanço para o Arranque da Época



Arranca hoje o campeonato e a pré-época mostrou-nos os três grandes de forma muito distinta.

O Benfica fica como o Vendedor – vendeu três jogadores chave e não contratou ninguém para os substituir.
O Sporting como o Comprador – várias aquisições, vários nomes sonantes e nenhuma venda realmente marcante.
O Porto é o Discreto – Virado para dentro com as portas praticamente trancadas.
Finda a pré-época considero que o Porto se sagra como o campeão desta, o Benfica mantém o estatuto de mais forte concorrente ao título e o Sporting foi uma enorme trapalhada.

Começando pelos de Alvalade.

A aposta de Bruno de Carvalho foi mais um “tudo ou nada”. Encher o plantel de caras novas e nomes sonantes.
No futebol do Sporting parece só haver duas vozes e a dupla instaurada, Bruno de Carvalho e Jorge Jesus, está destinada à barracada.

A pré-temporada pareceu planeada à bruta. Consideraram ser esta a melhor preparação enquanto não cabeça de série da eliminatória da Champions.
Os jogos pareceram todos muito forçados e sem qualquer espaço para os novos jogadores se integrarem e afirmarem.

Nesta altura o Jorge Jesus pode montar um excelente 11 e é indubitável que tem mais banco que há 3 meses.
O grande problema é serem mais as incógnitas que as certezas.
A incerteza sobre a presença na fase de grupos da Champions é só mais um motivo desestabilizador da formação do plantel leonino.
Por exemplo, a época começa amanhã e o Jorge Jesus ainda não sabe se vai contar com o meio-campo da época passada ou se vai ter de instaurar mudanças radicais.

À data não vejo ainda processos de jogo definidos, rotinas criadas nem qualquer identidade. A pré-época foi desaproveitada e muito por culpa da aventura do Jesus no 3-4-3. Mais uma invenção do mestre. Deixar sair o Paulo Oliveira, ainda por cima com um sistema de 3 centrais a ser trabalhado, só pode ser incompetência.

O grande destaque é o Bruno Fernandes. Mas terá espaço caso não haja vendas?
O mais entusiasmante no Sporting será quando a bola a rolar entre o Gelson, o Podence e o Bruno Fernandes.

Dúvidas:
Condição física do Mathieu. A dupla com o Coates funciona?
Bryan Ruiz vai ser integrado? Desaproveitado?
Doumbia vai sentar o Podence ou ser desestabilizador no banco?
Os capitães de equipa ficam no plantel?
Que táctica?
O Coentrão aguenta a época?
O Piccini acrescenta alguma coisa? Vai ter cobertura?

Com mais organização e ponderação estou convicto que este Sporting poderia ter feito uma pré-temporada que lhe permitisse chegar agora muito forte.
Mas com o Jorge Jesus é tudo á velocidade da luz.


Quanto ao Porto considero que o Sérgio Conceição fez até agora um trabalho de enorme respeito.
Sabia ao que vinha e trabalhou com o que lhe deram.

Recuperou jogadores emprestados, olhou à equipa B, deu confiança aos jogadores do plantel e trabalhou para tirar o maior proveito dos recursos à disposição.
Não sou fã do futebol que está a ser implementado mas reconheço o mérito do trabalho que está a ser realizado.

O Porto foi o único a mudar de treinador e mesmo assim é para já a equipa tacticamente melhor preparada para o arranque do campeonato.

Muitos adivinhavam o descalabro pelas restrições orçamentais da Uefa mas eles souberam trabalhar sob estas circunstâncias.

Organização, calma e muito trabalho. Enquanto os rivais andavam com os holofotes o Porto trabalhou com toda a discrição. Tudo muito ponderado.

A distribuição dos amigáveis foi feita de modo a conferir ao treinador tudo o que precisava: Competitividade, motivação e minutos para integrar e trabalhar todos os jogadores.

Tacticamente este é um porto sem grandes segredos. Pressão alta, explorar o erro do adversário e atacar com lateralizações e cruzamentos para os dois tanques que estão apontados à baliza.

É um Porto muito para consumo interno.
Um adversário de qualidade que favoreça a progressão no terreno em posse irá causar sempre grandes problemas à defesa portista.

Com bola este Porto vai ser sempre um perigo enquanto durarem as pilhas. Sem bola só vai ter a primeira fase de pressão, a qual também está dependente das pilhas.

A grande debilidade é sem dúvidas a construção do plantel. Só 14 jogadores para o 11.
Falta profundidade.

A dupla de centrais é provavelmente a mais forte do campeonato. O Filipe é bom e é um central à Porto.
O Ricardo dá outra vida à lateral direita portista.
O Danilo é um monstro.
O Oliver é pura classe.
Corona e Brahimi são craques. A grande vitória do Conceição e o elemento mais perigoso deste Porto é ter o argelino a progredir com bola desde o centro do terreno.
O Aboubakar é um excelente avançado e já está oleado com o Soares.

Contudo, os centrais não têm cobertura (o que vale o Reyes?), o Danilo não tem substituto, a táctica só funciona com o Oliver a criar as linhas de passe e a única alternativa à dupla de avançados é o jovem Rui Pedro.
O sistema de jogo está demasiado dependente dos interpretes disponíveis.

Estou convicto que vão afundar o Estoril e que depois tudo dependerá do cansaço, suspensões e lesões.


O Benfica é o mais forte mas está indiscutivelmente mais fraco que no ano passado.

A maior fragilidade do Rui Vitória é o modo como trabalha o processo defensivo. Basicamente é inexistente.

Dos 6 titulares só ficaram os 3 com maiores limitações físicas – Luisão, Fejsa e Grimaldo.

Ofensivamente somos uma delicia, um poço de criatividade e inteligência. A qualidade dos jogadores nem pede um processo trabalhado.

O factor Jonizzi é fodido.

Algo que me tem desagradado é a quantidade de vozes que regem o nosso futebol.
Quem devia falar está calado. A discussão fica para um par de homens do futebol e a maralha das comissões e favorzinhos.
O pior ainda é ver o sentimento de sobranceria que se instaurou. Não importa quem se vende, quem se compra, quem joga e quem não joga.
Criou-se uma preocupante despreocupação com a qualidade do plantel.

Não consigo entender a despreocupação com que se encarou o reforço do plantel quando desde de Abril se sabia que o Ederson, Semedo e Lindelof iriam sair.

O futebol deste Benfica também não é nenhum mistério. Defendemos com os defesas em autocarro, temos o Fejsa a varrer, ofensivamente temos os rasgos dos velocistas e somos guiados pela imaginação e técnica do Jonas apoiado pela visão do Pizzi.

O Professor anunciou uma alteração táctica para esta época a qual não se concretizou. Já o tinha tentado quando chegou.
No Benfica o Rui Vitória está destinado a criar muito pouco.

Na vertente emocional damos 10-0 aos nossos rivais.
Vitórias alimentam vitórias e o Vitóra alimenta muito este balneário. A sua capacidade de gerir os jogadores e manter este sentimento de união que todos liga é um dos motivos pelo qual partimos à frente.

O espirito de grupo é fortíssimo. O espirito de campeão está vivíssimo. Devemos isto aos títulos, ao símbolo e ao Rui Vitória.

Quanto ao plantel:

Na baliza falta o reforço. As fichas foram todas para o André Moreira mas no momento da decisão o futebol prevaleceu sobre o agenciamento. Perdeu-se muito tempo e agora dependemos da débil condição física do Júlio César.

Na direita saiu o Semedo e a aposta foi no Pedro Pereira. Mais um falhanço. Seja pela qualidade do jogador ou pela preparação do mesmo, quem tem de o avaliar falhou. O Almeida segura as pontas mas o Buta não é deste campeonato. Perdeu-se tempo e agora andamos a tentar fechar negócios para os quais o timing já passou.

Na esquerda tem de haver Grimaldo. É craque. O Eliseu tem piada mas é horrível. O Hermes confirmou a sua mediania.

O nosso problema central está nos centrais. A dupla está rotinada mas peca pela qualidade individual. O Luisão é líder mas cada ano está mais frágil defensivamente. O Jardel é um poço de esforço mas muito mediano e o seu pico de forma já passou.
O Lisandro tem o espirito certo mas é defensivamente precipitado.
Precisamos urgentemente de dois reforços, sendo que um deles pode até ser o Kalaica (ainda não tenho opinião formada).
Infelizmente foram necessários os jogos na Emirates para preocupar despreocupado Vieira.

Nas restantes posições é tudo maravilhoso menos o excesso de jogadores e as aquisições dos comissionários.

O Fejsa é intocável. O Samaris, tal como o Lisandro, tem o espirito certo mas falta-lhe futebol. O Filipe Augusto só poder ser solução a 6 mas mesmo aí é fraco.
Um Fejsa sem lesões e um Samaris feliz fechariam a posição.

Nas 5 posições de ataque destaco o Horta, Chrien, Krovinovic, Pizzi, Cervi, Rafa, Zivkovic, Jonas, Seferovic e Mitroglou.
É entregar estas posições às soluções que estes 10 nos dão.

O Chrien e o Kovinovic têm a época para crescer a deslocação do Pizzi para a direita dar-lhes-ia essa oportunidade. Adoro o Horta e este tanto pode jogar a 8 como a substituto do Pizzi.

Defendo o Pizzi à direita porque nos daria um melhor jogo interior, mais força com a bola, mais consistência sem ela e porque assim o jogador estaria mais liberto das zonas de pressão e mais próximo das de decisão.

Vou sempre preferir o Mitro ao Raúl. Tendo um de ser vendido percebo que será o mercado a definir qual. Ficando o mexicano continuamos com um muito bom suplente.

O Seferovic é o nosso grande reforço da época. É muito mais que golos e tenho a certeza que estes vão aparecer jogo após jogo.

Tanto o Salvio como o Carrilo são excelentes jogadores. O argentino é titular do Vitória e vai ficar. O peruano não se conseguiu afirmar e agora já não tem espaço para tal.

O Willock parece-me ser um extremo entusiasmante. Tem potencial mas não tem espaço e este tipo de jogadores necessita jogar. 

É importante reduzirmos o número de jogadores ofensivos para não corrermos o risco de, como na época passada, andarmos a desperdiçar o talento destes.
Nenhum dos nossos extremos ainda se conseguiu afirmar e isso deve-se à obrigação do Vitória de gerir os minutos de todos eles. Os craques tiveram tempo para jogar mas não para darem continuidade aos seus desempenhos.
Rafa, o Cervi e o Zivkovic merecem continuidade, merecem uma oportunidade para se afirmarem definitivamente.

Não esquecer o Arango. Aliás, esquecer o Arango. Mais um sul-americano que veio por interesses alheios aos benfiquistas. Veio e já foi.
Um tachista que elogie comissionários até poderia dizer que este era uma espécie de Jonas…

Depois da febre da aposta na formação parece-me que este vai ser mais um ano em branco nesse capitulo. Neste plantel havia lugar para o Pedro Rodrigues. Não é do gosto do treinador.

Resumindo:
Urgente reforçar a defesa.
Importante investir nos melhores jogadores, não desperdiçar talento.
E, apesar de ser algo maravilhoso de se ver, temos de poder ter um processo ofensivo mesmo que o Jonas não esteja lá para o inventar.

Imaginar as maravilhas que se podem fazer naquelas cinco posições com o Horta, Pizzi, Zivko, Cervi, Rafa, Jonas e Seferovic, entusiasma-me mais do que as noites de Nutícias com a Paula Coelho.

Mas o penta não virá só por tesões. Muito menos um Benfica de Liga dos Campeões.

Quanto aos amigáveis, valem o que valem.
Não haver jogo de apresentação nem Eusébio Cup é uma vergonha da qual só não se fala porque as conquistas sujam até os mais íntegros.