domingo, 12 de junho de 2016

O novo romance histórico de Modric


Foi apresentado esta tarde, no duelo Suker-Sukur, o novo livro de Luka Modric, uma versão fantasiada e livre das jogadas de Andrea Pirlo e Johan Cruijff. O croata parte dos factos históricos para depois recriar no seu contexto a forma de lidar com a bola. Reinventou a recepção orientada, desorientando por completo o meio-campo turco que ocidentalizava e ficava sem Norte - a baliza a Sul começava a ficar exposta.

Foi assim, como quem não quer a coisa, lá pelos minutos e tais, cabeceando com o pé de cima para baixo (como mandam as regras), antecipando como no Ténis um vólei que surpreendesse e deixasse sem reacção o adversário, que o autor inaugurou a sessão. Estava apresentado o livro: futebol de rua com um remate do meio da rua. Era tudo dele.

Ou quase. Como convidado para o prefácio, Rakitic, o excessivo talentoso. Há zonas do terreno que exigem multa a tanta qualidade. O jogador do Barcelona liderou com Mandzukic a pressão croata, condicionando a saída de bola dos turcos: num embuste próprio destes povos balcânicos, a Croácia criou a farsa perfeita, forçando-os a procurar territórios interiores onde invariavelmente encontravam o autor do livro ou duas das suas personagens principais, Badelj e Brozovic, à espera para lhes roubarem o brinquedo. A prestidigitação era tal que nem os turcos se apercebiam dela e o leitor só queria ir até ao fim, à última letra da última linha da última página.

A Croácia é uma equipa democrática que tanto acredita na ideologia centrista de uma moderação e coligação abdicando das facções extremistas como de repente faz uma parceria com Srna, o homem que cruza em média 100 vezes por cada 20 minutos. Em 90 delas, bolas cheias de veneno. Já a Turquia parecia viver um dilema adolescente, querendo exercer bullying sobre os adversários (Corluka despejava sangue pelo relvado em jorros constantes, querendo imitar sem sucesso o heroísmo do central Jardel, que jogou 80 minutos com a cabeça partida) mas acabando sem saber como exercer a animosidade.  Talvez a Turquia esteja precisada de fazer testes psicotécnicos e enveredar como a Croácia pelos territórios do talento, de onde brota naturalmente a planta sublime do golo. Na Turquia houve muito tempo de ódio e pouco tempo de Emor.

Homens do jogo: os pirilampos mágicos que vivem dentro do cérebro de Luka Modric.



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