sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Só te posso pedir "menos", António Simões




O que é isto?

Como é possível Simões?

Por respeito ao seu passado glorioso enquanto jogador do Benfica sempre tive muita cautela ao comentar António Simões.

Mas agora tenho de dizer: Menos Simões, por favor, muito menos.

Um treinador que está no clube há 5 meses é aposta ganha porque:

Colocou a equipa a praticar um futebol vistoso?

Colocou a equipa a praticar um futebol dominador?

Lidera o campeonato?

Já conquistou alguma taça?
Já mostrou superioridade frente aos rivais?

Nada disto. A equipa pratica um futebol sem ideias, perde os 4 jogos com os rivais, perde a Supertaça, é eliminada da taça e está a 8pts (talvez 7 ou 5) da liderança mas a aposta no treinador é já uma aposta única e exclusivamente porque este olha para os jovens e lhes dá oportunidade de mostrar o seu valor.

A aposta nos jovens do clube, a aposta na formação do clube, é um meio para atingir um objectivo e não um objectivo.

Para António Simões, neste caminho que ele percorre enquanto comentador da actualidade do Benfica, a aposta em Rui Vitória é uma aposta ganha desde o momento em que ele assinou, pois assinou já na condição de que teria de apostar nos miúdos da B, independentemente dos resultados, conquistas e do futebol praticado.

Num post anterior outro escriba aqui do Ontem dizia que temos um mau presidente e um mau treinador.
António Simões defenderá que temos um óptimo presidente e um bom/aposta ganha treinador.
Eu acompanho o escriba quanto ao presidente e fico a meio caminho quanto ao treinador, o qual considero não ter perfil de clube grande e ser tecnicamente mediano.

Admito que inicialmente pensei que Rui Vitória fosse melhor do que é. Ainda acho que é melhor do que tem mostrado ser.

2 Factos que me parecem óbvios:

- Rui Vitória é o treinador que fazia sentido para as intenções manifestadas ano após ano por Vieira, é o treinador com o perfil que a estrutura queria.
- Rui Vitória não é suficientemente bom para dar a volta às más condições que a Estrutura (directiva, não a de cimento) lhe dá.

A campanha europeia não está a ser brilhante mas sim mais competente que a dos últimos anos. Uma campanha europeia competente com um toque de brilhantismo na passagem por Madrid. Contudo é necessário mais para o treinador se tornar uma aposta ganha.

Assumir o erro


Já que estamos destinados a ter Vieira como Presidente até quando ele quiser, é imperioso que o treinador tenha suficiente qualidade para compensar as borradas da famosa estrutura. Ou seja, é possível, como foi nos últimos anos, ter sucesso desportivo com um mau Presidente e um bom treinador.  O que é impossível é ter sucesso com um mau Presidente e um mau treinador. É por isso que o mau Presidente que temos deveria compensar uma má decisão (mais uma, entre tantas) com a boa decisão de despedir Rui Vitória.

A estabilidade, a paciência,  o "dar tempo" só fazem sentido se houver potencial para crescimento; com o actual técnico o único potencial que há é para nos afundarmos mais. Estamos em Novembro, já perdemos a Supertaça, fomos eliminados da Taça de Portugal, vemos o Sporting a 8 pontos (que podem ser 5). Com um bom treinador, ainda poderemos ter esperança no TRI e, caso o não consigamos, preparar convenientemente a próxima época.  Com Vitória nada ganharemos e estaremos a desperdiçar a próxima época.

Há que ter a coragem de assumir o erro em vez de deixar o treinador como escudo de protecção.  Há que servir o Benfica em vez de servir os próprios interesses. Vieira será igual a si próprio e servir-se-á em vez de servir o clube, mas um bom Presidente já teria assumido o erro. Ou melhor, um bom Presidente nunca teria cometido o erro de contratar um mau treinador.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Escolher treinadores pelos números

"Saído Jorge Jesus, quem para o seu lugar? À hora que escrevo, parece-me claro que o sucessor será Rui Vitória. Não é nome que me agrade, pelo contrário. Não tenho visto nas suas equipas uma ideia de jogo capaz de singrar num clube grande. Tenho visto sempre equipas que defendem num bloco recuado, que fazem da transição ofensiva o seu maior argumento ofensivo e, sobretudo isto, têm sido equipas sem grandes princípios e posicionamentos de posse e controlo de jogo.

O jogo entre o Vitória e Sporting a contar para esta última edição da Taça da Liga parece-me absolutamente paradigmático para ilustrar o que falo, isto é, nesse jogo o Sporting apresenta um 11 bastante alternativo e, não sei precisar os minutos, vê-se reduzido a 10 bastante cedo no jogo. Perante isto, o Vitória, sem embargo do natural domínio nos números da posse de bola, não foi capaz de criar uma única oportunidade clara de jogo, sendo que as suas tentativas de desmontar um adversário a defender em cima da sua área se resumiram a cruzamentos e mais cruzamentos, facilitando assim a vida à linha defensiva leonina. Se for isto o que Rui Vitória tiver de melhor para o Benfica… Não me parece suficiente. Não é menos verdade que o próprio, em entrevista à RTP durante a semana passada, afirmou que a sua ideia de jogo tem sido fortemente condicionada pela qualidade e características dos jogadores que vai podendo ter em Guimarães, sendo que, ainda segundo Rui Vitória, quando lhe fosse possível subir o nível de jogador que tivesse ao seu dispor, iria também apresentar uma ideia mais positiva e completa no seu jogo. Do que tenho visto em Guimarães, não vejo por onde, mas espero que sim.

Eu preferia seguir caminhos técnicos diferentes e que tenho por melhores. Caminhos que passassem por Marco Silva, Peseiro, Paulo Sousa, Paulo Fonseca ou Vítor Pereira (sobretudo este). Tudo treinadores de quem já vi muita qualidade de processos nas equipas que já conduziram e tudo treinadores com ideias claras e competentes para um futebol de equipa grande, independentemente da qualidade individual que têm ao dispor."

Escrevi o excerto atrás inserido no dia 4 de Junho, numa altura em que JJ já era dado como certo em Alvalade, ainda que não fosse oficial, e Rui Vitória na Luz.

Infelizmente, tudo o que escrevi sobre a contratação do nosso actual treinador, tem-se vindo a confirmar (para pior, não para melhor), levando-me a uma desilusão muito maior do que a perspectivava na altura.

Este é o problema de se contratar um treinador com base exclusiva nos resultados que obtém e não tendo em conta a forma como eles acontecem. Só assim fazia sentido achar que substituir JJ por Rui Vitória poderia dar bom resultado, com a agravante do primeiro ter saído para um rival directo.

Passados estes meses, continuo a achar que o grande problema não foi a saída de JJ, mas sim a escolha do seu sucessor. O plantel não é (já não o era) o melhor da liga, mas já mostrou ser superior ao que está a fazer. Analisando individualmente cada jogador, não há classe superlativa para lá de Gaitan e Jonas, é um facto, mas também não deixa de ser verdade que a qualidade dos comportamentos colectivos defensivos e ofensivos da equipa têm deixado demasiado a desejar. Criatividade individual é impossível de implementar e difícil de incrementar, mas organização e ideia colectiva é a missão primeira de um treinador, algo que o Benfica de Rui Vitória não tem, nem revela poder vir a ter.

Agora? Bom, agora parece-me evidente que Rui Vitória deve chegar ao final da época e, nessa altura, escolher com competência (há?) o novo treinador, pois escolher pela mudança antes disso poderá significar o "queimar" de quem venha a seguir, sem que haja essa necessidade.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

domingo, 22 de novembro de 2015

Bailando

“O que aconteceu no domingo na Luz dificilmente voltará a suceder em circunstâncias semelhantes. O Sporting chegou a uma vantagem dilatada de uma forma dificilmente repetível, naquele que terá sido provavelmente o jogo mais fácil da temporada para a equipa de Jorge Jesus. Não se pense, contudo, que a vitória dos verde-e-brancos é injusta ou está aqui a ser menorizada. Não está. O maior erro será, por ventura, pensar que o jogo caiu para o lado do Sporting por acaso. Não, não e não. O Sporting foi mais organizado, soube tirar proveito dos momentos do jogo, foi mais adulto, maduro, trabalhado e, virando as palavras contra o próprio Rui Vitória, foi mais (a única) equipa. Vimo-lo na Supertaça e voltámos a vê-lo na Luz. O Sporting não vencerá o Benfica nem por 0-3 nem com facilidade em todos os jogos. Mas da forma como estão as coisas, seria surpreendente que o Sporting, em dez jogos com o Benfica, não ganhasse pelo menos sete ou oito, alguns deles com facilidade. Por questões que se prendem com as individualidades e com o colectivo. E quem não acredita nisto terá a realidade a entrar novamente de chofre pela cara adentro já no próximo dia 22 de Novembro.”

in Previsível, Ontem Vi-te no Estádio da Luz, 27 de Outubro de 2015

Vamos directos ao assunto. Não há volta a dar, o Benfica meteu-se a jeito. Primeiro na pré-época, ao não conseguir despachar Jorge Jesus para as arábias, como era aparentemente vontade de Vieira. Depois, ao potenciar o agravamento de uma situação por demais óbvia e que já se adensava desde o início da temporada anterior, a política de desinvestimento brutal no futebol, que serviu apenas para agudizar todos os problemas já conhecidos. O Benfica meteu-se nesta alhada porque quis. Porque foi anjinho. Basicamente, porque foi incompetente.

O Benfica começou a perder o jogo de sábado na conferência de imprensa de antevisão ao clássico, no só pelo atraso patético de Rui Vitória, que queria saber antecipadamente o que Jesus iria dizer, ou pelo menos que o treinador do Sporting não pudesse usar as suas palavras na conferência de imprensa do Sporting, mas também pelo próprio conteúdo que verbalizou, que mostrou um Rui Vitória completamente perdido, com um discurso pobre, desconexado e repetitivo. O desnorte que o Benfica revela dentro de campo tem o seu espelho no discurso e na postura que o seu treinador evidencia fora dele. O Sporting ganhou bem, merecido, ao som de bailando na conferência de imprensa de antevisão e no relvado.

Contudo, a culpa não morre só com o treinador. Já no ano passado o Benfica tinha sido claramente inferior ao Sporting no confronto directo. No jogo da Luz acabaram por ser os leões a dispor das melhores ocasiões de golo, com Slimani a falhar um golo feito no último fôlego da partida, enquanto que em Alvalade foi uma avalanche da equipa de Marco Silva que terminou com um anti-climáx final quando Jardel fez o primeiro e único remate do Benfica à baliza de Patrício nesse jogo, para golo, por sorte. E quem diz com o Sporting diz com o Porto (empate sofrível na Luz e vitória milagrosa no Dragão) e nos seis jogos que efectuou na Liga dos Campeões. Este ano, à semelhança do que aconteceu na época passada, o Benfica demite-se de jogar o jogo e procura apenas vencer com base na sorte de um chutão para a frente poder resolver a questão. E aqui o problema não é só do treinador (ou dos treinadores, neste caso). Prende-se essencialmente com a falta de qualidade dos intérpretes. O Benfica deu-se ao luxo de perder jogadores essenciais, com Maxi à cabeça, e ainda Salvio por lesão, sendo que Lima foi o único cuja saída acabou por ser colmatada com alguma qualidade. Se a estes problemas somarmos uma defesa envelhecida em que Sílvio tem abordagens assustadoramente más aos lances, Luisão está em pré-reforma, Jardel só tem mostrado o agravar das suas deficiências com a idade (para não falar no inenarrável Eliseu, que ontem nem foi o elo mais fraco), e um miolo do terreno sem a qualidade de outros tempos, nomeadamente craques como Javi, Ramires, Witsel, Matic ou Enzo, fica tudo muito mais perceptível.

E não venham com a desculpa da formação. Não se perdem estes jogos pela aposta nos jovens da formação. Basta ver que o Sporting terminou a partida de ontem com 7 elementos da sua academia. O projecto da aposta na formação encarnada está correcto. E tem tanto de correcto como de mal conduzido.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Perdendo Por Três e Cantando



Aquilo que muitos parecem não conseguir entender é a emoção profunda que vive nas gargantas dos adeptos enquanto declaram o seu amor ao Clube pelo qual cantam.

O amor a um clube não existe só na glória, um amor a um clube vai muito além dos seus dirigentes, treinadores e jogadores; vai muito além do Futebol e das Modalidades; vai muito além das exibições e dos resultados.

O Clube vai muito além de tudo o que o compõe e o que nele acontece. Todo o simbolismo que o compõe é o que desperta tal sentimento nos adeptos.

Um coro de vozes grita em uníssono o seu amor ao Benfica. Uns e outros superficializam com teorias:

"Os adeptos estão a reconhecer o excelente trabalho que a direcção tem feito."

"Os adeptos estão a afirmar o seu apoio ao treinador."

"Os adeptos estão a puxar pelos jogadores."

"Os adeptos estão a desculpabilizar o que se passa no relavado."

"Os adeptos estão com vitórias morais."

E eu espantado afino a garganta e expludo o coração enquanto me admiro com a cegueira surda de quem nos ouve.

"Eu amo o Benfica"

"Tu és o meu amor, o amor da minha vida."

Serão todos surdos? Não interessa. Porque não cantamos para os outros ouvirem, cantamos para o Benfica porque vivemos o Benfica.

Há outros que cantam o seu amor por outros clubes. Talvez tenham a sorte de serem ouvidos por quem percebe a sua expressão. Talvez quem os oiça partilhe dessa mesma profunda emoção.

Os adeptos não querem a gratidão daqueles que os representam nos relvados. Não, os adeptos querem é que eles partilhem dos sentimentos das bancadas, aquele amor imenso e inexplicável que veste de vermelho.

Os primeiros a afirmar que o Clube é os seus adeptos são também os primeiros a tentar comercializar o benfiquismo. Não percebem que a força dos adeptos não é o seu poder de compra mas sim a sua capacidade de oferta. E assim diminuem a verdadeira paixão a momentos de marketing que limitam aquele sentimento mais ilimitado que existe.

Depois questionam-se. Questionam-se sobre a impossibilidade de recuperar de um 0-3 ao intervalo, sobre a dificuldade de reentrar no jogo, sobre a normalidade que é ir cada vez mais abaixo.

Como alguém me disse “Raros são os treinadores que a perder por 3 ao intervalo conseguiriam entrar melhor e não pior no segundo tempo.”

E assim vão aceitando cepticamente a normalidade da anormalidade que é ver tanto alheamento ao símbolo que se carrega ao peito.

Quem não entende isto também não terá como entender o Fenómeno Red de 2005.


segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Pressão alta


Nos diferentes sectores de actividade em Portugal, é comum oferecer-se uma prenda ou uma lembrança como forma de agradecimento, cortejo ou meramente simpatia por um serviço efectuado. Se numas vezes tal é feito com intenção de suborno, noutras assume um carácter de mero galanteio, da forma mais simples de agradecimento que pode haver. Numa altura em que se discute o valor, a intenção e o propósito das ofertas com que o Benfica agracia árbitros e observadores, acho importante tentar dissecar este assunto.

Quando um engenheiro camarário recebe umas luvas para facilitar a construção de um imóvel em terrenos não destinados à construção civil, não temos dúvidas da intenção de quem oferece a prenda nem de quem a aceita. Quando um médico recebe um queijo e uma garrafa de vinho também acho que ninguém duvida que o doente não está à espera de ser melhor atendido por parte do clínico nem que este o fará de tal forma. Posto isto, em que parte deste espectro ficam as prendas que o Benfica dá aos árbitros?

Em primeiro lugar, confesso que acho anormal a quantidade: uma camisola de Eusébio e um jantar parecem-me um exagero face à ocasião. Se é bem verdade que ter a honra só de si de poder arbitrar um jogo no Estádio da Luz já seria motivo de orgulho e satisfação para qualquer árbitro, a oferta da camisola coaduna-se à ocasião, porém, não entendo a que propósito vem um jantar. Ainda se fosse no contexto das provas europeias, de forma a dar conhecimento do país, da gastronomia, da sua História, do bem receber dos portugueses, penso que se aceitaria, mas não vejo sentido nenhum em oferecer jantares a árbitros e observadores portugueses.

O problema da questão nem se encontra naquilo que o presidente do Sporting pretende fazer passar: a ilegalidade. Não é. A FIFA refere nos seus regulamentos que os árbitros podem receber prémios que não excedam os 200 francos suíços, qualquer coisa como 184 euros, algo que penso que não excede o valor das ofertas que o Benfica faz. O problema (e não a ilegalidade, que são coisas diferentes, repare-se) poderia colocar-se no facto de os árbitros se sentirem pressionados a favorecerem o Benfica. Recebendo um árbitro 1342 euros por cada jogo na Liga (sem esquecer o salário base que auferem e ainda as presenças que fazem, alguns deles, nas provas europeias), que árbitro é que se vende ou se sente pressionado sequer a apitar em favor de um clube que lhe oferece um jantar?

Existe um limiar financeiro estabelecido pela FIFA para as ofertas e, concorde-se ou não, esse limite deve ser acatado. Se o presidente do Sporting não gosta, tem de se habituar à ideia de que não é ele quem faz os regulamentos. O que o Benfica faz está aparentemente dentro da lei. Tal como o que o Sporting fazia nos tempos de Godinho Lopes, quando oferecia uma camisola do clube aos árbitros que se deslocavam a Alvalade para arbitrarem jogos dos leões. Será que Bruno de Carvalho se esqueceu disso? Ou será que acha mais formal e correcto o depósito de dinheiro na conta de um fiscal-de-linha antes de um jogo na Madeira?

Das várias formas de pressão que existem, a oferta de uma camisola e de um jantar, por mais despropositado que seja, não me parecem ter influência sob quem ganha mais de 3500 euros por mês. Já a pressão psicológica com apelos a um clima de guerrilha constante, com declarações depreciativas e agressivas que visam directamente os árbitros que são escalados para os jogos do clube de Alvalade parecem-me, isso sim, abusivas e condenáveis, bem mais capazes de condicionar o comportamento de um árbitro e de falsear a verdade desportiva, como se viu aliás este fim-de-semana. Este clima de talibanismo criado pela estrutura do Sporting, isso sim, deveria preocupar não só quem nomeia os árbitros bem como a Associação que os defende. Parecendo que não, em 9 jornadas, já foram assinalados cinco penalties a favor e 3 expulsões contra. Por este andar ainda batem o record de 2001/2002, que também lhes pertence.