quinta-feira, 30 de junho de 2011

A minha ideia para o Benfica - Parte 2 - Comunicação

Comunicação

Esta é uma área crucial que, em meu entender, tem sido explorada de forma deficiente. A Comunicação não deve ser um corpo estanque que apenas serve para uns comunicados pueris – normalmente apontando a alvos exteriores -, misturando desinformação com novelas mexicanas que nada favorecem à compreensão e conhecimento dos benfiquistas dos problemas/acções do clube.

A Comunicação deve servir, primeiro, para informar os adeptos, com o detalhe possível (algo mais interno deverá ser anunciado e discutido em Assembleias Gerais), de todas as acções e áreas estruturais do Benfica e, segundo, quando os alvos são extrínsecos, apontar, de forma inteligente aos visados. O Benfica não deve, na minha opinião, reagir a tudo o que mexe com Comunicados imberbes. Deve, antes, se decide apontar incongruências de arbitragem, responder a discursos de rivais ou refutar informação duvidosa por parte da Comunicação Social, planear e escolher criteriosamente a forma como o faz.

Um exemplo claro é a quantidade de Comunicados, muitas vezes dizendo quase nada, que o Clube tem lançado nos últimos tempos. Defendo, como resposta, quando o Benfica acha que o assunto merece uma acção, não tanto a opção de Comunicados no site oficial, mas a convocação de conferências de imprensa em que, através de um discurso firme, sólido, inteligente, por vezes irónico quando o assunto merece esse tratamento, defende o seu ponto de vista e põe a nu o que pretende refutar.

No caso das arbitragens, não basta colocar vice-presidentes em figuras ridículas nos programas semanais ou comunicar no site que o clube se sente “lesado”; exige-se muito mais: uma análise detalhada dos erros, comparando-os com situações similares que foram ajuizados de forma completamente diferente – tanto no próprio jogo, em favor do adversário, como em jogos dos rivais -, com recurso a imagens.

Este procedimento terá muito maior visibilidade, chegará a muito mais gente, pressionará os árbitros a uma maior justeza nas apreciações (não se pretende que nos favoreçam; pretende-se apenas que nos não prejudiquem) e ditará as leis que avisarão os demais que o Benfica está atento e pronto a revelar as diferenças de tratamento entre clubes.

Não sou um apologista do discurso vitimizador; durante anos defendi que não devíamos abordar tanto este tema mas após a época vergonhosa a que todos assistimos, este assunto não pode ser tratado com leviandade, antes com acções assertivas que defendam o clube das jogadas podres de bastidores deste nosso futebolzinho podre e corrupto. Se possível, com elevação e ironia pontualmente, para que a mensagem passe sem que tenhamos de cair num discurso chato, de coitadinhos, que nos não interessa nem é essa a nossa génese.

Aos adeptos, a informação tem de ser clara. Basta de comunicados que, em vez de informar, confundem ainda mais. São vários os exemplos de vendas de jogadores cujas cláusulas não entendemos. Não que sejamos burros, mas porque a informação geralmente vem em códigos. Isto não é informar, é desinformar, raiando muitas vezes o desrespeito, porque assente num discurso que é claramente voltado para o não entendimento claro das particularidades dos negócios.

Os adeptos e particularmente os sócios merecem saber em que moldes são feitas as vendas e compras, com que valores, que cláusulas têm, com que percentagem exacta fica o clube. Afastá-los dessas informações será sempre afastar o clube daquela que é a sua origem: de todos, um. E não mais do que isso: de todos, um.

No aspecto comunicacional ainda há muito a melhorar. Na Benfica TV, que tem melhorado mas que persiste ainda como braço armado da Direcção, o que é, do ponto de vista informativo e da opinião, um atentado claro à verdadeira democraticidade e pluralidade de vozes. Não defendo um canal de televisão em que constantemente se criticam as acções da estrutura (isso seria contraproducente), mas uma grelha de programação que equilibrasse bem a informação propriamente dita com espaços em que benfiquistas de todos os quadrantes pudessem dar as suas opiniões, preferencialmente gente anónima, que não tem nada a dever aos órgãos de soberania e que muitas vezes é esquecida ou calada.

Noutro espectro informativo, o Site oficial terá de ser reformulado e evoluído. O que existe é pobre, pouco funcional, nada interactivo e parco para um clube desta dimensão. Entendo que as vitórias devem ser empolgadas em detrimento das derrotas mas não consigo compreender que, muitas vezes, resultados menos bons sejam relegados para o total esquecimento ou que as crónicas sobre os jogos sejam de um alheamento da realidade e clubite aguda que mais valerá ler os jornais desportivos do que passar os olhos por textos absurdos de tão facciosos. Isto serve também para os comentários aos jogos na Benfica TV, em que, se se exige benfiquismo, não se pede um completo alheamento ao jogo e uma forma tão enviesada de ver lances e decisões arbitrais.

Há muito a melhorar mas também há que manter o que tem qualidade: programas como “Vitórias e Património”, as excelentes pesquisas de Alberto Miguéns (que acho que já não está na Benfica TV), os “Em Linha”, os jogos de todas as camadas jovens e modalidades e outros são inegáveis mais-valias para a divulgação e expansão do Benfica. Que outros se juntem à grelha de programação para que a Benfica TV seja, de facto, um canal de grande qualidade e benfiquismo.

Como projecto futuro, penso que a ideia de uma rádio do Benfica faria todo o sentido. Obviamente alicerçado num orçamento possível e numa plataforma que o tornasse viável. Seria mais uma estaca de Benfica para todo o Mundo.

À Comunicação tem de exigir-se também um ponto fundamental: a relação íntima com todas as outras áreas, a informação específica e detalhada de tudo o que se vai fazendo em todas as outras sub-estruturas. Como escrevi no post anterior, especialmente na área da “Gestão Financeira”, que é crucial para que os benfiquistas entendam de que forma estão a ser geridos os bens do clube.

Para Vice-Presidente, tenho vários nomes, tal como para Director de Comunicação, Director da Benfica TV, Responsável pelo Site e equipa em geral. Dou, portanto, alguns, sem que se esqueça que a premissa passa por perfis antes de nomes:

Ricardo Araújo Pereira, Ricardo Palacín, João Gobern, Carlos Daniel, José Eduardo Moniz, Pedro Ribeiro, Pedro Ferreira

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A minha ideia para o Benfica - Parte 1 - Gestão Financeira e Futebol

As premissas fundamentais para um Benfica simultaneamente vencedor e virado para a paixão e comunhão entre adeptos, funcionários e dirigentes terão de ser sempre as mesmas: benfiquismo e competência.

É a partir delas que o Benfica terá de se reconstruir de base, eliminando agentes nocivos à primeira, mesmo que aptos na segunda ou - e também isto muito importante - abdicando de elementos que, apesar de sentirem muito o clube, sejam, do ponto de vista da competência e do rigor, pessoas que não garantem o caminho do sucesso sustentado e orientado para a organização.
Não quero com isto dizer que devamos abdicar desses elementos noutras áreas – podem e devem ser orientados para zonas do clube, para acções de divulgação, em que o clubismo “tradicional”, tal qual o conhecemos, será defendido e exponenciado ao máximo junto dos adeptos e potenciais futuros sócios; defendo apenas que, em termos estruturais, devemos exigir a quem nos represente não só paixão e fervor clubísticos como também o talento e a capacidade de trabalho suficientes à profissionalização de um clube que, além da paixão, vive de resultados, sejam eles desportivos, financeiros ou publicitários.
Estes três elementos fundamentais – sucesso desportivo, rigor financeiro e expansão da marca Benfica – não devem conviver isolados uns dos outros; pelo contrário: deverão estar interligados e dependentes da organização em cada um deles para que o todo, o clube, sobressaia como marca e como instituição de cariz ganhador e de saúde económico-financeira.

Tendo como base para a admissão na estrutura do Benfica pessoas que preencham as premissas supracitadas - benfiquismo e competência – dividamos a organização do clube, a Direcção, nas seguintes sub-estruturas: Gestão Financeira, Futebol, Comunicação, Marketing, Modalidades, Futebol de Formação e Sócios e Adeptos.

Seis pontos cardeais, para cada uma delas um Vice-Presidente, sem necessidade de inventar mais porque para cada uma corresponde o espaço necessário a que outras sub-estruturas tenham o devido destaque, sendo que entre elas terá de haver uma íntima ligação, especialmente entre o Futebol e o Futebol de Formação e entre a Comunicação e o Marketing; a Gestão Financeira e as Modalidades, embora funcionando de forma autónoma, reportarão, como é lógico, ao número 1 do clube, o Presidente.

Farei uma dissertação sobre as várias áreas e aquilo que defendo para cada uma, dando nomes que me parecem ter perfil para os cargos; o mais importante será o perfil, os nomes deverão ser tidos com alguma relatividade, porque certamente haverá mais do que um benfiquista competente para cada uma das sub-estruturas.


Gestão Financeira

É a vertente do clube que menor ligação tem com os adeptos, por duas razões principais: a ignorância de grande parte dos benfiquistas em relação a questões de ordem financeira - por desconhecerem a forma como se organiza e equilibra uma instituição de tamanha dimensão; e porque ao adepto comum, mais do que estudar orçamentos, informar-se sobre empréstimos obrigacionistas ou analisar criteriosamente as contas semestrais, interessa o pontapé na bola e as contratações sonantes – e a pouco clara política de Comunicação (cá está a necessidade de as sub-estruturas funcionarem em uníssono e não viradas para dentro), que, de tão pobre e parca de informação, afasta os sócios e adeptos da compreensão integral do que se vai fazendo nesta área.

A política de comunicação tem, por isso, um desafio importante: servir de farol aos benfiquistas, iluminar-lhes o caminho para o entendimento claro sobre as várias áreas do clube, especialmente, e porque é dela que nos debruçamos, sobre a Gestão Financeira. Com uma informação acessível e clara, os benfiquistas poderiam não só conhecer mais do que se vai fazendo como provavelmente muitas das críticas infundadas não existiriam porque, com conhecimento e explicação, só quem desse novas ideias poderia ter motivos de crítica. Assim, no lamaçal que é a política comunicacional do clube, todos os empréstimos absurdos (serão?), todas as políticas financeiras presumivelmente danosas para o Benfica (serão?), todas as megalomanias incongruentes em discursos demasiadamente optimistas, são alvos fáceis da crítica, mesmo da crítica acéfala e nada sustentada.

Em termos puramente financeiros, recuso-me a fazer observações profundas porque sou um ignorante na área (já agora, aproveito para chamar o Americano a sair das catacumbas em que entrou e a pronunciar-se sobre esta e outras áreas que sinta poder debater com bases sólidas, como nesta pode). Exijo apenas, e é muito, o que me parece nem sempre existir: rigor, organização, planeamento, antecipação de resultados (positivos e negativos) e, claro, voltando ao mesmo, que é a base que deve sustentar qualquer clube organizado, uma comunicação que nos informe em vez da desinformação existente actualmente.

Nome para Vice-Presidente: Bagão Felix.


Futebol

Esta é uma área que mexe com os sentimentos mais íntimos dos benfiquistas e a que mais estará sob o escrutínio e avaliação de todos, por ser a que mais facilmente é acompanhada e interpretada por aqueles que seguem o clube.

Na área “Futebol”, não há quem não dê opinião, mesmo que muitas vezes tão válida como a que dá sobre “Gestão Financeira”. Mas no futebol há esta ilusão: achamos que, por não serem números, temos capacidade para ir além, opinarmos, julgarmos, darmos as nossas próprias ideias. A filosofia reinante é a de que em termos futebolísticos não será necessário “saber académico”, uma noção que obviamente incorre numa falácia tremenda mas que, na génese, tem uma verdade: todos nós, mal ou bem, lidámos e lidamos com questões ligadas ao fenómeno. Que isso faça de nós “académicos”, puro engano; mas sem dúvida estamos mais preparados para avaliar o trabalho nesta área, porque ele também nos aparece de forma mais clara e directa, do que, por exemplo, na área anterior.

Os princípios que devem nortear esta sub-estrutura são simples na teoria mas complexos quando os (não) vemos aplicados: uma excelente área de prospecção, uma relação íntima com a formação e seu departamento, identificação e interpretação assertiva nas contratações, seja para técnicos ou jogadores, que deverão corresponder não só à qualidade exigida para servirem o Benfica mas, e talvez ainda mais importante, que aliem essa qualidade ao perfil do que se pretende.

Um exemplo: não basta contratar um treinador de grande qualidade, com um passado com resultados que dão mostras de poder ter sucesso no Benfica; tem de haver um identificação do perfil: conhecer-lhe as ideias a fundo, interpretar se essas mesmas ideias se adequarão à ideia geral do clube e se o próprio técnico tem condições para trazer a qualidade exigida juntamente com a comunhão com a idiossincrasia do Benfica. Isto é fundamental, para que se não desperdice talento e qualidade. O mesmo serve para os jogadores. Neste prisma, importa estabelecer uma ideia fundamental: um sistema e modelo de jogo que nortearão toda a estrutura do futebol, desde os mais novos até à equipa principal.

É uma ideia que não é nova mas que tarda em aparecer no Benfica. É lógico que haverá lugar a uma flexibilidade táctica e às ideias do técnico mas importa estabelecer esse princípio, para que o trabalho feito na formação não desague num mar de equívocos quando os jogadores chegam à idade de poderem alimentar o plantel principal. Por isso é tão importante que as áreas “Futebol” e “Futebol de Formação” estejam intimamente relacionadas e que, não raras vezes, os treinadores, também eles em formação, das bases possam pontualmente subir na hierarquia e treinarem o plantel principal. Não é uma utopia nem uma visão demasiadamente romântica; é o que faz mais sentido, tanto do ponto de vista desportivo quanto financeiro. Uma aposta clara na formação de jogadores e treinadores, aliando a isso uma ideia geral de um sistema e modelo de jogo, será não só garantir uma redução drástica nos custos como a valorização da marca Benfica e do benfiquismo.

Obviamente não defendo a ausência de contratações de jogadores de outros campeonatos; também servem o clube de forma importante e valorizam os que vêm da formação. Mas com rigor, com critério, não esta aventura infinita por compras ao desbarato, sem qualquer planeamento, que só aumentam o orçamento e nada ou pouco trazem de ganhos desportivos ao clube. Daí a importância de uma prospecção de excelência, que identifique e acompanhe os jogadores desde muito novos, que lhes conheça não só o valor futebolístico mas outras características igualmente importante, como a cultura desportiva, a personalidade, o conhecimento que têm do clube.

Defendo uma mescla equilibrada entre os nossos jovens e jogadores mais experientes de qualidade inegável, aptos a entrarem na equipa sem períodos de adaptação ou empréstimos anos a fio. O Benfica, embora actualmente pareça, não é uma empresa de jogadores; é um clube de futebol. Contratar não deverá ser para pôr a rodar noutros campeonatos ou outras equipas do nosso, na esperança de que um dia venham a render financeiramente. A melhor forma de valorizar os passes dos jogadores contratados será sempre englobando-os num plantel com uma ideia tão bem definida que lhes dará o espaço necessário para mostrarem talento e valorizarem o próprio passe e o clube que representam. Este terá de ser o caminho: prospecção de excelência, relação íntima com a formação e critério ideológico nas contratações. Passa por aqui o sucesso desportivo e o equilíbrio das contas do clube.

Nome para Vice-Presidentes: Rui Costa

 

terça-feira, 28 de junho de 2011

Assim voam Falcões...

Isto é de uma gravidade tal que não pode merecer por parte do Benfica outro tratamento que não seja o de, caso sejam falsas as acusações, obrigar Jorge Baptista a divulgar as fontes e a ter de provar o que disse em tribunal.

Dito isto, não me espantaria nada que fossem verdadeiras as palavras de Jorge Baptista. Quem tem ausência de benfiquismo ao longo de toda a estrutura, quem permite ter gente no clube há anos na prospecção sul-americana para quem o Porto "é uma religião", pode muito bem ver Falcao e outros voarem para o rival.

É algo para que tenho alertado há muito tempo: ter benfiquismo no clube não é nenhuma odisseia fantasista ou utopia ultrapassada. Benfiquismo dos agentes que dirigem o Benfica significa defesa intransigente, apaixonada, competente dos nossos e signfica também a não existência de bufos e agentes infiltrados. Quem acha que pedir benfiquismo no clube é utópico mais vale entregar o cartão de sócio ou queimar as camisolas que tem em casa e desistir.

O benfiquismo tem de ser sempre a premissa primeira, juntamente com a competência, para avaliar se uma pessoa é ou não apta a entrar na estrutura. Isto não é nenhuma ideia louca de um desvairado que pensa coisas impossíveis, é o que é lógico e o que me espanta é que haja tanta gente para a qual o conhecimento de existirem sportinguistas e portistas na Direcção (e restante quadro estrutural) do Benfica seja irrelevante e até aplaudido. Será que estas pessoas sabem o que é o Benfica?


 
Adenda: Já alguém reparou que mudaram o símbolo do Benfica, apagando-lhe o azul da faixa? Mas esta gente não pára de ser incompetente? Parece que estou a ver a reunião, o Vieira levanta-se: "eh pá, os adeptos não páram com a cachada da mancha azul, apaguem o azul das camisolas!". Chegado à tipografia, foi azul da mancha, foi azul do símbolo, foi tudo. E mexe-se no símbolo e pronto, está tudo bem, não é preciso dizer nada? Eu sugiro que em vez da bicicleta metam lá um pneu. É o SL Bieira.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Dia 1 - como estamos?

- BENFICA TV - Há uns meses escrevi um texto sobre a televisão do clube em que, entre elogios, apontava defeitos graves que deveriam ser corrigidos para que a qualidade melhorasse substancialmente. Alguns dos defeitos continuam bem presentes - em particular, o de ser um meio vinculado a um modo único de pensar, o do Presidente, sem contra-argumentos ou filosofias distintas -, mas quero aqui assinalar a melhoria que a televisão tem tido desde esse texto de há uns meses. Além de ter aumentado a exigência na programação, chamo a atenção para um pormenor que tem de ser muito valorizado: a forma como a Benfica TV tem acompanhado a pré-época, testes médicos e contratações, com entrevistas aos jogadores, imagens exclusivas, divulgação de informação desconhecida do público em geral. Isto é um privilégio único na forma como em Portugal os adeptos contactam com os seus clubes e só o Benfica, por ter uma televisão, beneficia disso. Ainda hoje, agora, vão sendo entrevistados os jogadores que chegam ao primeiro treino. Este é o caminho: estarmos à frente dos outros e divulgarmos o Benfica para o Mundo com qualidade, exigência, profissionalismo. Um grande clube tem de ser único e exclusivo. Enquanto os outros ainda pensam e sonham com uma televisão própria, já o Benfica leva anos de aprendizagem e melhoramento. Começa a chegar-se ao patamar de qualidade que todos devemos exigir à televisão do clube. E ela parece estar aa responder muito bem.

- Finalmente temos treinador de guarda-redes. Parece que lhe telefonaram no Sábado e ele aceitou. Por aquilo que recolhi, é um homem competente com muita ambição e vontade de mostrar serviço num grande clube. Esperemos que sim, que seja realmente um jovem de valor inegável e que esta época, com Artur, possamos pensar noutra coisa que não a baliza. Será muito bom sinal. Artur não é dos que "ganha muitos pontos"; é mais daqueles que não os faz perder. E isso já será uma vantagem substancial em relação ao último habitante das redes benfiquistas.

- Rodrigo Mora é comprado, por esse facto entra em litígio com o seu clube, fica 6 meses sem jogar e quando chega ao Benfica... é emprestado de volta para a Argentina. Percebem o meu problema com isto? Que tipo de lógica é esta, este entreposto de jogadores contratados que nem sequer chegam a jogar pelo Benfica? Será que vai treinar uma vez que seja no Seixal?

- Enzo Perez e Cardozo não foram convocados para a Copa América. Mau para eles, muito bom para nós. Queremos estar o mais rapidamente preparados para atacar as competições, começando já com a primeira eliminatória da Champions.

- Hoje será apresentado o equipamento alternativo - que já se conhece há muito tempo; não percebo esta política de apresentação. A única coisa que tenho a dizer é: horrível. Não, duas: horrível e... espero que seja o último ano de coisas destas a representarem-nos. Teremos de lutar a partir de hoje por um equipamento alternativo todo branquinho e clássico. Que tenham de ser os adeptos a exigir o óbvio e o que respeita a tradição do clube não deixa de ser significativo, tanto dos adeptos como de quem gere o clube.

- Coentrão, se é para sair - e é -, mais vale acelerar o processo, para que o lateral-esquerdo, central e médio (Danilo?) cheguem o mais rapidamente possível. A entrada do Chelsea poderá ter criado um problema: estamos em crer que Vieira prometeu Coentrão a Florentino por valores abaixo da cláusula de rescisão. E agora, Vieira? Sabendo que Abramovich pode chegar e dare os 30 a pronto, o que fazer? Um dilema que não ajuda ninguém.

domingo, 26 de junho de 2011

Campeão Nacional de Atletismo!

Um feito fantástico, tendo em conta os anos que tinham passado desde a última vitória: há 15 anos.
Confesso que não é das modalidades do clube que mais acompanho. Vou lendo umas notícias, atento à actividade que se vai passando, mas sempre com algum distanciamento, ao contrário de outras, que acompanho bem mais de perto. O feito, esse, com ou pouco acompanhamento meu (e dos restantes sócios e adeptos), é de realçar e de elogiar. E que - ao contrário de outras modalidades - sirva o Atletismo para dar o exemplo de que o sucesso não serve como fim mas como meio gerador de mais sucesso. Que o próximo ano seja o momento da conquista do bi-campeonato, é o que todos esperamos.

Por ora, os Parabéns aos heróis: Jorge Paula (400 metros planos), Tiago Aperta (Dardo), Marcos Chuva (Salto em Comprimento), Rui Pinto (5000 metros), Marco Fortes (Peso), Rasul Dabó (110 metros barreiras), Paulo Gonçalves (Salto em Altura), Jorge Paula (400 metros barreiras) e Nelson Évora (Salto em Comprimento).

O Benfica é campeão masculino de Atletismo 2010/2011.

Onde foi que nos perdemos?

Para compreender o presente, blá blá, é preciso conhecer o passado.
Afirmei que a estagnação do Benfica começou nos anos 70 do século passado. Fixemos uma data precisa: 25 de Abril de 1974, embora os sinais de declínio já existam no futebol, 1968 é a ultima presença em finais da Taça dos Campeões e convém não esquecer que o final da carreira de Eusébio coincide com 1974, saiu do clube em 1975. E a propósito do “Velho”, procurem saber quantos títulos ele conquistou durante os 14 anos de Benfica e quantos foram conquistados nos seguintes 31. E se não perceberem, uma consulta ao quadro de honra federativo talvez ajude.
O presidente que levou com o 25 de Abril foi Borges Coutinho, o tipo de pessoa a quem se convenciona catalogar de gentleman e altamente respeitado no meio, duvido é das suas capacidades de gestão e tenho a certeza que uma das coisas que não compreendeu, foi a confusão a seguir ao tal dia de Abril. Julgo que teve medo, que o clube viesse a tornar-se um qualquer Dínamo ou Lokomotive. O clube abanou, começou a perder com mais frequência.
No entanto, a coisa não se notou nos anos seguintes, o ritual parecia manter-se, o Sporting ganhava de quatro em quatro anos, no ano do Mundial. O Benfica foi campeão em 75, 76 e 77 e em 78, ano de Mundial, já não aparece o vizinho e sim o Porto que conquista o seu primeiro depois de 58/59, logo acumulado em bi. A coisa tinha começado.
Segue-se Ferreira Queimado, como presidente e que nos legou um dos maiores praticantes de rugby, o João. Diz-se dele que, quando presidente do Lisboa Ginásio, mandava desviar a secretária quando chovia no gabinete presidencial. Foi nesta gerência que foi admitido o primeiro estrangeiro no Benfica, um simpático Jorge Gomes. Não foi culpa de Queimado, apenas um sinal dos tempos, o Benfica já não tinha garantias de conseguir os melhores portugueses.
Seguiu-se o Sr. Comendador Martins e já aqui falei dele sobre a transferência de poder, no texto “ O triunfo da Política ou a Baía dos Porcos”, referindo acontecimentos que se reportam ao segundo mandato. Esqueci um acontecimento, impensável, que ocorreu no primeiro: quando o futuro Sr. Comendador “perdeu” o Chalana. E para quem? Para o Sporting? Não! Para o Porto? Não! Para o Boavista do Sr. Major…O qual, gentilmente recompensado, acabou por devolvê-lo ao Sr. Comendador. Estão a perceber? Os dois mandatos deste sujeitinho, apesar dos títulos — Svennis e Mortimore — foram devastadores para o futuro do Benfica. E esta peste é figura reverenciada, um “senador”! Se isto não é decadência, o melhor é jogar Sudoku, infantil, de preferência.
Depois, o ecuménico João Santos, eleito por não se encontrar em nenhum dos grupos que rodeavam Jorge de Brito e onde se digladiam duas concepções de gestão: a conservadora, “ o deixa estar que está bem assim”, de Gaspar Ramos e a reformista de Tadeu. Gasparzinho ganhou, com o apoio do ecuménico João Santos.
Depois Jorge de Brito, um especulador genial, mas com alguns problemas quando tinha que meter as mãos na massa. Resolvia o problema contratando os melhores e no Benfica não os tinha, o clube caíra na mão de arrivistas e oportunistas. E no tempo de JB aconteceu um outro acontecimento da maior relevância: a contratação de Futre, de que forma e com que meios, seguidas, no ano seguinte, das “traições” de Paulo Sousa e Pacheco, já para não falar, de anterior acontecimento, a tentativa de fuga de João Vieira Pinto. 1992-1995, foram anos terríveis, culminando com a infiltração de Artur Jorge, em 94, depois de Toni ter sido campeão em condições extraordinariamente adversas e recompensado pelo untuoso Damásio com um punhal nas costas.
Siga o baile: Damásio e una variação sobre a nulidade. Teve azar, o dinheiro que sustentava um depenado Benfica — grande Jorge, quanto dinheiro deitado fora para satisfazer os caprichos de tantas nulidades e malandros! — tornou-se necessário e reclamado, a corda na garganta passou a fazer parte do quotidiano da gestão benfiquista, o aristocrata estava pelas ruas da amargura, desportiva e financeira. Data deste tempo o início do não pagamento de impostos e segurança social.
Finalmente, o último antes, Vale e Azevedo. Diz-se que nos bancos e na caixa, haveria cerca de quatro contos e a primeira coisa que o infeliz presidente teve que fazer foi injectar dinheiro seu para despesas correntes e salários. Ainda assim, acrescentemos o mesmo à lista, mesmo sabendo-se que durante três anos o homem não teve tempo para mais que arranjar o dinheiro que seria preciso no dia seguinte. Mas sabia ouvir: foi a conselho de um dos menos importantes assessores, Eládio Paramés, que Mourinho foi contratado.
Ricardo esclarece-me, a tua “oposição” é aquela do “Benfica, vencer, vencer”? Dá uma vista de olhos pela listagem, encontrarás, na sua maioria, incluindo a infâmia Veiga, aqueles que conduziram o Benfica até 1997. Ou terás algum milagre para anunciar à tribo, um novo herói e uma revolucionária chefia? Daí que tenha afirmado que para pior já basta assim. Pelo menos não me sinto humilhado e ofendido. É pouco? É! Claro que quero mais, arranjem um cabecilha, um revolucionário capaz e é só o tempo de ir buscar a caçadeira que nunca usei. Direi que já não é sem tempo. Já fiz uma proposta sustentada e explicada.
E foram estes os líderes que o Benfica conseguiu parir nos últimos 25 anos do passado século, todos democraticamente eleitos pelo “povão” benfiquista. E durante estes anos, tudo que se fez teve a ver com arranjos de pedreiro, incluindo a megalomania do fecho do 3º anel, ainda que aqui se compreenda, afinal tratava-se de dinheiro macaco. Apesar do cinzentismo, da falta de ideias e ambições, estas pequenas figuras até Martins e incluindo, tiveram cuidado com o passivo do clube, o desastre veio depois.
O texto é, na essência, político, uma espécie de cronologia da incompetência, refere o topo da superstrutura e não aborda a inexistente política de gestão, considerada como simples prática contabilística. A política desportiva (gargalhadas…), aquela que verdadeiramente nos interessa, fica para outro dia. Pobrezinho como é este texto, foi quase forçar-me a escrevê-lo, o relato da pura e simples sobrevivência, não é muito estimulante para um “historiador”.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Posso fazer-vos umas perguntas?

1. Há lógica em contratar por um milhão de euros este mânfio,
 provavelmente para o emprestar ao Brasil (onde vai obviamente poder adaptar-se ao jogo europeu), e despachar a custo zero o titular da Selecção de sub-21,

não resgatar um jovem da formação que rodou, bem, por Inglaterra

e não dar uma hipótese a um jogador
contratado a época passada, jovem, português, titular há um ano da selecção de sub-21? O Benfica contrata jogadores para serem mais-valias desportivas ou meramente como apostas de bolsa?


2. Se Nuno Gomes ingressar no Braga, por tudo o que o clube minhoto tem feito nos últimos anos, espero que no Benfica haja a clarividência de abandonar a proposta feita este ano.

3. Maxi Pereira assina antes do campeonato começar ou ainda vamos ter uma surpresa?

4. Fábio Coentrão vai, fica, nem vai nem fica, antes pelo contrário?

5. O central e o lateral-esquerdo são para Novembro?

6. A apresentação pomposa dos 4 jogadores da formação é fogo de vista, recambiando-os em Agosto, ou são de facto apostas claras para o plantel?

7. A ver se percebo: com Cardozo, Saviola, Jara, Kardec, Mora e Weldon, contratamos um paraguaio por 700.000 euros

e emprestamo-lo para o Paraguai, para, como o central brasileiro, adaptar-se mais rapidamente aos relvados europeus?

8. Quantos milhões de euros estarão este ano emprestados por esse mundo?

9. Diz alguma imprensa que Salvio poderá vir por menos dinheiro e Roberto. Se acontecer, torno-me católico.



10. Pablo Aimar a sub-capitão. Lógico e merecido.

11. O treinador de guarda-redes chega quando? Ou não chega e mete-se o Roberto a ensinar os outros?



[Fui fazer contas para chegar à resposta à pergunta do ponto 8. Meus caros, preparem-se: são nada mais, nada menos do que... 39 milhões de euros. 39 (!) milhões de euros gastos em jogadores que estão emprestados. Depois não querem que se abra a boca. "Ah isso é mau benfiquismo, seu abutre!"? Para o caralho! Mau benfiquismo é gerir um clube de forma completamente incompetente. E, como não acredito que o Benfica se veja livre do Roberto, podem juntar 8,5 aos 39 e ficam com a bela quantia de 47,5 milhões de euros. Votem mais vezes nos gajos da "gestão brilhante", votem.


Olhá listinha:


Sidnei - 7 milhões de euros
Rodrigo - 6 milhões de euros
Alípio - 5 milhões de euros
Éder Luís - 4 milhões de euros
Oblak - 4 milhões de euros
Balboa - 4 milhões de euros
Airton - 3 milhões de euros
Shaffer - 2 milhões de euros
Adu - 1,5 milhões de euros
Urreta - 1,5 milhões de euros
Fábio Faria - 1 milhão de euros]

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Libertadores e Benfica: tudo num bloco de texto, sem parágrafos nem pausas, um shot porque quem gosta de ler não é mariquinhas.

Sou pouco dado a superstições - exceptuando o facto de andar constantemente de barba até que um objectivo do Benfica acabe ou rapar o cabelo quando o Benfica é campeão ou achar que se o copo estiver exactamente a meio entre o prato de presunto e o do pão, o Benfica tem mais hipóteses de marcar golos ou... - mas ontem, refastelado a ver a final da Libertadores, não pude deixar de pensar que este ano vamos ser campeões europeus. O motivo é simples: defrontraram-se Peñarol e Santos, os adversários nas duas Intercontinentais da nossa História. Mais: o Santos, 48 anos depois do último título americano, venceu, o que me leva logo para a evidente conclusão de que o Benfica, 50 anos depois de se ter sagrado bi-campeão europeu, não tem outro destino que não seja o de no final da próxima época andar a festejar mais um troféu na Europa - pode ser a Liga Europa, vá, que em tempos de vacas magras toda a carne que se arranjar, mesmo que próxima do osso (a mais saborosa), será ganho inquestionável. Podem, por isso, preparar os vossos corpinhos e as vossas mentes: daqui a um ano seremos campeões europeus. E, se o não formos, nunca mais acreditarei em superstições; o mesmo é dizer: deixarei o cabelo crescer até voltar a acreditar nelas. Foi um jogo emotivo, dinâmico, nem sempre brilhante mas competitivo e interessante de ver. Desiludiu-me o jogo uruguaio, muito na retranca, especialmente após o golo de Neymar, em que o Peñarol podia e devia ter arriscado mais. Arriscou mais tarde, depois do segundo golo, quando já era tarde. Ainda marcou porque os brasileiros quiseram dar mais alma ao jogo, marcando na própria baliza, mas a festa, 48 anos depois, era do Peixe, de Pelé, de Milton Neves e de todos os santistas na casa do rival do São Paulo. Depois foi o festival sul-americano: batatada de ferver. Pontapés, murros, correrias desenfreadas uns atrás de outros, a polícia pelo meio, seguranças, adeptos, jornalistas, todos no caldeirão branco do Pacaembu até que os jogadores do Santos decidiram que se calhar seria mais interessante festejar o terceiro título americano da história do clube. Pelé, claro, armou-se em protagonista e só não foi levantar o troféu porque o Dracena não achou graça à sede de protagonista do semi-Rei e atirou-o para um canto. Léo, esse, foi o maior entre os maiores e prometeu que quando sair dos relvados sairá directamente para a Presidência do clube. Assim, sem passos intermédios. Viva a América do Sul. No que nos interessa, ex-Benfica, futuro-Benfica ou esteve-para-ser-Benfica-mas-não-foi, há algumas considerações: Danilo desta vez jogou na lateral direita. Mais sóbrio do que o lateral do lado esquerdo, Léo, foi ainda assim eficaz defensivamente. Posiciona-se bem, compreende os momentos em que deve apoiar mais o meio-campo e ataque (ainda marcou um golo, numa boa jogada) ou recuar e dar apoios à zona defensiva, tem alguns problemas no passe e, apesar de ter talento e potencial, parece-me uma aposta de risco. Por mim, se é para contratar um médio de qualidade inegável e de pouco risco, ia buscar o Arouca, um jogador de grande qualidade, consistência e rasgo. Do outro lado do campo, passava-se o filme Léo. Como dizer? Quase perfeito. Excelente a defender (após a sua saída, o corredor esquerdo do Santos ficou tipo passador), oferece opções constantes ao meio-campo, sobe quase sempre em drible e tabelinha, drible e tabelinha, com uma garra do tamanho do Santos. É muito grande, este Léo, apesar de ser pequeno. E, 4 anos depois de ter saído de forma estranha do Benfica, continua a ser uma opção que, se cá estivesse, seria de primeiro nível. Depois há... Durval, um que esteve para vir e, se não me falha a memória, ainda sentou a bunda nas cadeiras do Estádio da Luz. Felizmente foi só isso que aconteceu, pois Durval servirá mais para assentar tijolo do que jogar futebol. Uma espécie de Paredão, mas em pior. Do outro lado, tínhamos Urreta, que entrou a 25 minutos do fim. Esticou o jogo, deu alma ao Peñarol, nem sempre bem, nem sempre lúcido mas importante naquela última tentativa desesperada dos uruguaios em fazer algo do jogo. Procurou zonas mais interiores e, por isso, foi menos eficaz, embora tenha qualidade de passe e visão de jogo. Um jogador que gostaria de ver regressar em definitivo ao Benfica. Como notas adicionais, falar nas estrelas do Santos: Ganso e Neymar. Como se sabe - ou se não sabem, deviam saber -, os brasileiros são os Estados Unidos da América do Sul: adoram protagonismo, são um "bocadinho" ignorantes em relação aos outros países e culturas e acham que são os melhores do mundo por razão divina e espiritual. Dá-se o caso de que na actualidade os melhores do Mundo são de várias nacionalidades mas nenhuma do Brasil. Entre argentinos, espanhóis, portugueses, holandeses, não sobra ceptro para nenhum canarinho. E isso dói-lhes um bocadinho na alma. Então inventam heróis, o último é Neymar, um puto com qualidades sem dúvida extraordinárias mas ainda meio-jogador, sem fibra nem capacidade para chegar a um gigante europeu e explodir. O seu futebol precisa de espaços e de defesas moles, na Europa, se quer brilhar, terá de aprender alguns princípios com o pequenino da lateral esquerda, esse mesmo, Léo, o jogador-Presidente. Antes disso, nunca será melhor do Mundo nem sequer melhor da América do Sul nem do Brasil, sequer. Porque o melhor do Brasil, esse sim, está no seu próprio clube: Ganso. Provavelmente o melhor jogador que o mundo já viu, depois de Zidane, nos passes de ruptura, na visão que tem de todos os centímentros de campo, na técnica de passe assombrosa. Não o vão buscar rapidamente, não, que o Jesus já anda de olho nele.



quarta-feira, 22 de junho de 2011

Para um menino de 2 anos: quais as cores do Benfica? Vermelho e branco? Muito bem, agora vai lá à Bancada Vip dizer isso ao teu paizinho.

Vivemos na era do novo. Na era das modernidades, modas e tecnologias. Do diferente, porque sim. Encara-se o tradicional como velho e ultrapassado e abre-se o mote para o peculiar, o espectacular, o feérico, mesmo que seja, e é muitas vezes, de uma fealdade assinalável.

A meio dos anos 90, a moda chegou aos equipamentos das equipas de futebol. Vieram grandes génios do marketing, doutos estilistas e auto-proclamadas gentes do "bom gosto" e das virtudes. Talvez mesmo Paula Bobone tenha dissertado infinitamente sobre as camisolas benfiquistas, talvez o vermelho estivesse em desuso, o branco, cor de tal forma neutra, precisava de uns adornos, uns brilhos nas mangas, uns diamantes no símbolo, umas listas na zona da barriga. E os equipamentos mudaram. Do principal a vermelho e o alternativo a branco, o Benfica caminhou sobre as mais diversas modas e estilos, todas tão díspares entre si mas com um ponto em comum: eram todas horripilantes.

Quem não se lembra de um rosa-bebé, de um cinzento metalizado ou ainda, no auge do bom gosto estilístico, aquele amarelo torrado com letras a vermelho em cima? Que modernidade, que arrojo, que elegância! E os adeptos, ávidos de abandonar o clássico para entrarem definitivamente no modernismo, acolheram aqueles dejectos de roupa com a mais pura urbanidade, desejosos do novo, do diferente, do espectacular.


Desde esses anos, o Benfica tem desfilado por esses campos com camisolas que, se me fossem dadas, servir-me-iam perfeitamente ou para reflectores no meio de uma nacional num dia de chuva e furo no pneu ou, quando menos feéricas, para uma ida ao Colombo ou afastar os vendedores de fibra óptica que vão lá a casa interromper as minhas sessões de espiritismo avançado.

Dizem-nos que vendem mais, estas peças de vestuário, que as vendas galopam, que os adeptos exigem-nas, que as marcas estudam, sabem, e concluem magníficos pedaços de merda em forma de camisola do Benfica. A realidade, sempre tão intrusiva e chata, demonstra-nos o contrário: uns gatos pingados ao longo dos anos com esses dejectos e pouco mais. Mas os dirigentes persistem, fazem-nos crer que é a ignorância de que somos vítimas na matéria do estilo, marketing e modernidade, e continuam, ano após ano, a dar-nos camisolas alternativas que variam entre o ridículo e o total desrespeito pela génese do Sport Lisboa e Benfica.

E seria tão fácil, tão estupidamente fácil, porque só traria vantagens, simultaneamente merecer o Benfica, respeitá-lo, defendê-lo, divulgá-lo: como alternativa, seguir a tradição e a beleza do passado, uma camisola simétrica à principal, branquinha com laivos encarnados. Mas talvez devamos primeiro questionar Paula Bobone ou Fátima Lopes sobre estas questões. Elas são quem conhece a fundo este clube e o que ele representa.

E as vantagens, meus caros, de uma camisola branca não passa apenas, e isso bastaria, pela questão estética e dos valores benfiquistas. Tenho para mim que o lado desportivo é afectado. Nunca estudei profundamente esta questão mas tenho toda a percepção de que a percentagem de vitórias diminui substancialmente nos jogos em que, nos últimos 15 anos - desde que começou a moda do feio -, as equipas do Benfica usaram aqueles trajes de encantadores de serpentes. Confesso que não tenho paciência para mergulhar em tal pesquisa, por isso convido os curiosos a fazê-la em prol desta ideia e, caso se verifique verdadeira, do Benfica.

E, não, as vendas não aumentam quando os trajes são avessos à História do Benfica. Pelo contrário. E este ano é disso exemplo: ninguém, NINGUÉM, acha menos da principal do que LINDA, MAGNÍFICA, FANTÁSTICA, CLÁSSICA, HISTÓRICA. E como conseguimos isso? Fomos nós, adeptos, que nos insurgimos contra as inovações imbecis, contra a ausência de Benfica, contra a delapidação da estética em nome de marcas que nos colocaram enormes manchas azuis horríveis na nossa tão bela e fervurosa de sangue camisola encarnada. E o resultado foi este belo manto sagrado:




Mas o caminho não está concluído. A próxima luta é OBRIGAR os dirigentes do Benfica a colocarem como alternativa a simétrica à principal, sem Paulas Bobones, penduricalhos, brincos, diamantes, brilhos, cores aberrantes, fiozinhos, mangas tontas, colarinhos de psicopata, manchas estúpidas. Fora com isso tudo! Que este ano seja o último ano de suplício - e se ele vai ser difícil! Vejam só a bela merda de cagada que arranjaram para representar o Benfica - sim, o Benfica! Não um clube de xadrez ou de golfe!, o Benfica:
 

 
Chega de novo, de diferente, de urbano. O novo é feio, é ofensivo para o clube, é prejudicial desportivamente, é horrível, não nos representa, não nos identifica, não faz os outros perceberem que estão a jogar com o Benfica. O classicismo exige-se. E tem esta forma:




Digam lá que não é logo outra cagança. Apetece ir para o campo ganhar duas Champions seguidas!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Villas-Boas no Chelsea - o maior desafio estratégico do Benfica

E, de repente, sem que nada o avisasse, a "cadeira de sonho" de Villas-Boas dá lugar a um jet-pack milionário com destino a Londres e baralha as cartas com que os principais candidatos ao título irão jogar.
A saída do técnico portista revoluciona o domínio do favoritismo, confunde casas de apostas, desilude adeptos, traz euforia aos adversários e torna o Campeonato Nacional 2011/2012 como o potencialmente mais equilibrado da última década. De favorito crónico - pela condição mental, nível do plantel, continuidade de jogadores e treinador, óbvia competência e factores exteriores sempre do seu lado -, o Porto passa a natural candidato ao título - como o são também Benfica e, menos, Sporting -, embora sem a vantagem natural que teria se Villas-Boas se tivesse mantido sentado no sonho de uma cadeira.
E no Benfica? Como encararão clube, dirigentes, técnico e jogadores esta oportunidade clara para lutarem de igual pelo resgate do troféu perdido esta época?

Estará na resposta a essa pergunta a diferença entre sucesso e insucesso. Se virem na saída de Villas-Boas um motivo para persistirem na estratégia falhada da megalomania, incompetência, ausência de trabalho e pouca preparação mental, em vez de uma vantagem estratégica, a saída do técnico portista será só mais um episódio esporádico de esperança que desaguará inevitavelmente em descrença e frustração.
Se, pelo contrário, os agentes desportivos do Benfica compreenderem que a oportunidade apareceu não como alternativa à inteligência e cuidado planeamento da época mas como um complemento extra que poderá facilitar os primeiros momentos de um ano em que a equipa e jogadores novos precisarão de uma lenta adaptação à mini-revolução no grupo de trabalho, então poderemos estar, de facto, mais próximos de uma época desportiva de sucesso e de uma esperada consolidação para além dele.

Têm a palavra Vieira, claro, porque é o Presidente, mas acima de tudo quem conhece a fundo o futebol e deve aprender e potenciar este momento: Rui Costa - no desbloquear de processos pendentes, contratações que tardam em acontecer e saídas que se esperam vir a ocorrer o mais rapidamente possível - e, como é óbvio, Jorge Jesus, para quem este jetpack de Villas-Boas deverá ensinar o caminho da estratégia assertiva, baseado não na verborreia e arrogância, mas no do trabalho, da lucidez, do método e das escolhas certas.

Se todos aproveitarem o momento presente para, primeiro, compreenderem que o Benfica passou a estar mais próximo de poder vencer o campeonato, segundo, mantiverem o trilho do planeamento sustentado e da escolha inteligente de opções - não só em termos técnicos mas estratégicos -, e, terceiro, não se deslumbrarem sob a luz do jetpack de Villas-Boas, descansando à sombra de uma arrogância tão conhecida, se tudo isto - inteligência, humildade, trabalho, estratégia, planeamento, organização - estiver sempre presente, então podemos afirmar que o Benfica tem as cartas suficientes para daqui a um ano estarmos todos em festa.

É o grande desafio de todos os que representam o Benfica. Como lidarão com o momento e como terão de abdicar de velhos hábitos nocivos que só enfraqueceram e degradaram a cultura deste clube.
Têm, pois, a palavra (e os actos) Vieira, Rui Costa e Jesus. Sabendo que, para todos eles, este será o momento que fomentará a glória ou a guilhotina que os afastará, para alguns de forma irreversível, dos destinos do clube.

Eis que chegou o maior desafio estratégico do Benfica da última década. Estaremos preparados para ele?

Comigo, podem contar. I´ll give you shelter from the storm.


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Um acto de inteligência manchado por mais uma atrocidade

Tenho pena que neste Benfica não haja tempo para divulgar e elogiar as boas iniciativas - enquanto lemos algo que nos agrada (e que vai sendo raro), logo aparece outro acto de incompetência que mancha o primeiro e lhe retira consistência.

Falo, claro, do regresso de António Carraça ao Benfica. Um homem que saiu incompatibilizado com Vieira há menos de 4 anos, que deu há dois anos, numa entrevista ao "Academia de Talentos", sinais claros de contestação em relação às ideias e métodos do actual Presidente do Benfica, reentra no clube pela porta grande, logo para um cargo de extrema importância: Director para o Futebol.

É caso para perguntarmos que espécie de trabalho fará e, fundamental mas que parece não ser prioridade para os dirigentes do Benfica: porquê mais um não-benfiquista na estrutura do clube? Não ponho em causa a competência de Carraça - que acredito existir -, pergunto-me, e pergunto-vos, se não haverá gente competente benfiquista para fazer a ligação entre jogadores e Presidente.

Num cargo vital para o clube, em que a paixão, além da razão, tem de existir e é potenciadora de uma dinâmica de vitória e propiciadora de uma identidade consistente e alicerçada no benfiquismo, como fazê-lo se o Director para o Futebol não é do Benfica? Gostava que me respondessem os que, cegamente, vão assobiando para os lados e fazendo longas vénias às escolhas de Vieira.

Não bastavam Jorge Gomes, Paulo Gonçalves, Domingos Soares Oliveira, Vieira e João Gabriel; eis a cereja em cima do bolo ausente de benfiquismo: António Carraça. Por que razão não escolher Pedro Emanuel para adjunto, Manuel Fernandes para técnico dos juniores ou António Oliveira para Director de Comunicação? Pintar o Estádio de azul, o Seixal de verde e trazer o Macaco para liderar os No Name Boys ou o Miguel Sousa Tavares para as crónicas no jornal do clube? Deixo estas ideias para que os dirigentes do Benfica pensem seriamente nelas. Qualquer uma que venha a ser produzida no futuro já não me surpreenderá.

O que me surpreendeu, pela positiva, foi a notícia que dá conta de que Manuel Sérgio será a partir de agora colaborador próximo do Benfica, especificamente de Jorge Jesus. Uma escolha inteligente que surpreende de tão rara no universo das escolhas incompetentes dos dirigentes do Benfica. Manuel Sérgio é um homem sábio, culto, conhecedor por dentro do futebol, experiente e com a inteligência suficiente para observar, analisar, aconselhar Jesus sobre jogadores, modelos e sistemas de jogo da equipa e dos adversários, inventoriar evoluções de atletas, detectar-lhes o potencial.

Manuel Sérgio fala em criar um "departamento de inteligência competitiva". Nada mais correcto e que só peca por tardio. Já muitas equipas o fazem a nível profissional. Que tenha sido Jesus e não o Benfica a pensar nesta solução, por um lado significa que, de facto, há pouca gente a pensar o futuro dentro daquele clube; por outro, pode dar-nos um sinal positivo sobre a possibilidade de Jesus ter ganho alguma humildade e a sua disponibilidade para a aprendizagem com os mestres. Pena é que, repetindo-me, tenha sido assombrada tão bela notícia com mais uma escabrosa e estúpida escolha da nossa Direcção. Definitivamente, não temos sossego.


A boa exigência deste clube

Em relação às modalidades escreverei mais profundamente lá mais para o final do mês. Por ora, gostaria só de realçar uma ideia que me parece estar a passar ao lado de muitos benfiquistas, entretidos em escolher se são da facção Vieira ou anti-Vieira: a época, em termos de títulos, não foi má, não foi sequer razoável; foi boa. Podemos questionar-nos sobre a importância dos mesmos mas nesse caso se criticamos o facto de não termos ganho nenhum Campeonato nacional (exceptuando o título de Juvenis) não podemos deliberadamente esquecer que esta época trouxemos par ao Museu mais uma taça europeia, a Taça Cers em Hóquei.

Crítica fundamentada, sim, mas convém não perder a clarividência e saber reconhecer algumas das boas coisas que vão sendo feitas no Benfica. Acima de tudo, o problema não esteve tanto na prestação das várias equipas ao longo da época mas na falha nos momentos decisivos em várias delas. Com uma melhoria a 50 por cento nessas finais, teria sido uma época de grande sucesso. É nisso que o Benfica tem de centrar as suas forças: melhorar o aspecto mental dos jogadores, construir uma identidade mais forte, encontrar motivações para ultrapassar os adversários de maior-valia. Se for possível, como eles fazem connosco, "odiando-os".

E, apesar de tudo, mesmo numa época considerada "má" para os benfiquistas, vejam a comparação com os 2 rivais mais directos e compreendam que o ecletismo e a formação não são, de facto, para todos. Aliás, para os que os apregoam como pãezinhos quentes é que não são de certeza.

Escandalosamente roubado do Vedeta da Bola

sábado, 18 de junho de 2011

Pequena nota sobre a pobreza de espírito instalada no desporto português

Estou a acompanhar o Sporting-Benfica, 3º jogo da final do Campeonato. Está 3-1 ao intervalo para nós. No entanto, para sermos campeões, ainda falta escalar os Andes todos, já que nos dois primeiros jogos, na Luz, perdemos os dois, o primeiro de forma completamente ridícula e absurda, tal foi a incompetência para segurar, a menos de um minuto do fim, dois golos de vantagem. A equipa não sabe defender o 5x4 e portanto torna-se apenas uma questão de tempo até que o adversário faça golo. Eu sugeriria aos adversários que entrassem de início com guarda-redes avançado. É que, além da pouca qualidade defensiva nesse estilo de jogo, o Benfica não consegue acertar na baliza quando a recupera. Pensem nisso.

Mas este comentário veio a propósito de uma tristeza que constato: o ambiente de atrasados mentais que há também no Futsal. Um jogo do qual se esperaria algum distanciamento em relação aos comuns ambientes violentos no Futebol está tanmbém ele já conspurcado pelo anti-desportivismo primário. E, se os adeptos têm culpa nesta questão, o que dizer dos jogadores, de um e outro lado? Uma miséria comportamental. Não páram o jogo quando vêem um adversário no chão, agridem-se ao pontapé e à cabeçada, os treinadores vociferam (Orlando Duarte é um atrasado mental, principalmente por não ter dito nada nos dois primeiros jogos, em que o Sporting foi claramente beneficiado, e agora parece uma puta tonta), um jogador em especial (Divanei) queria bater no árbitro. Enfim, uma podridão que nem um Benfica-Sporting deve fazer-nos aceitar. Isto não é desporto, é outra coisa qualquer.

Não me revejo nesta gente - adeptos, jogadores, treinadores - e, como tal, compreendo cada vez mais o sentimento de afastamento que vou tendo em relação a tudo isto.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

As minhas aventuras de leão ao peito

A minha primeira camisola como jogador federado foi - imagine-se - do... Sporting. Estávamos na altura (1990) em que, em Abrantes, o Benfica tinha a sua sede em ruínas e a filial (a 2ª a nível nacional) não se mostrava capaz de ter uma formação sustentada. Por outro lado, o Sporting - que a nível nacional se afundava num declínio profundo que ainda hoje mantém e de que muito dificilmente sairá - tinha um associativismo na cidade de grande entrega e dinamismo, também pelas mãos de Francisco do Carmo Silveirinha, honroso sportinguista, homem de brio, então dirigente do Sporting de Abrantes e... meu avô.

A princípio, foi-me difícil encarar a ideia. O meu Pai convencia os meus 9 anos a integrar os treinos de pré-época da equipa da cidade, ideia que me pareceu a todos os títulos notável, uma vez que os parques da cidade, os jardins, os pátios e os corredores lá de casa reclamavam não ser o sítio certo para eu exponenciar o meu futebol de camisola 10 do Valdo Cândido Filho.

O problema deu-se quando o meu Pai me explicou, muito calmamente para que eu não saísse aos berros pela rua abaixo, que teria de usar uma camisola feia de listas horizontais verdes e brancas. Não era possível a um menino de 9 anos ter de usar o mesmo traje daqueles que, no Estádio da Luz, eram tidos como rivais e que saíam invariavelmente da catedral vergados à força do Glorioso.

Usar aquela camisola seria não só representar os mais fracos como trair o Benfica e aquele "10" cosido à mão - com o "1" um bocadinho mais abaixo do que o "0" numa clara desatenção do meu Pai para as façanhas da máquina Singer. Seria trair o Valdo e todos aqueles que de duas em duas semanas se enchiam no Estádio para festejar o benfiquismo apaixonado. Que responderia a algum deles, se numa tarde soalheira me pusessem a mão na cabeça e me perguntassem: "então, miúdo, jogas no Benfica lá da tua terra?"? Que vergonha passaria, enquanto no relvado o Magnusson marcava golos e eu respondia, envergonhado: "não, jogo no Sporting"? Não são dilemas fáceis para a cabeça de um jovem jogador.

Foi por esses momentos tortuosos na minha vida que entrou em cena o Francisco, não sei se na condição de avô que quer ver o seu neto apenas e só praticar o seu desporto favorito, se na condição de dirigente, que, como bom sportinguista, quer roubar talentos ao rival. Talvez, anos mais tarde, Sousa Cintra tenha arranjado inspiração neste caso de roubo claro para as suas aventuras pelo plantel benfiquista. Mas não se enganem: não sou nem fui nunca um Paulo Sousa ou um Pacheco. Se é verdade que o Sporting de Abrantes me acenava com um contrato por objectivos, recebendo a cada jogo jogado uma sandes de mortadela e um joy de maracujá, não será menos assertivo e correcto afirmar que a mortadela muitas vezes estava no limiar do prazo de validade, o pão ressequido e o joy de uma temperatura natural que afastava qualquer necessidade pós-jogo de goles decisivos. Não, o meu ingresso no Sporting Clube de Abrantes deu-se, pura e simplesmente, por ausência de Benfica e, claro, por uma precisão evidente de exponenciar o meu futebol para além dos muros do pátio da minha casa.

Felizmente, descobri, logo nos primeiros treinos com os mais velhos, que de Sporting o clube tinha o nome, os atletas eram quase todos do Benfica e os poucos sportinguistas que pululavam pelo pelado eram tidos como pouco aptos para a modalidade, como é, aliás, evidente para quem jogue à bola num qualquer campo deste país.

Fiz a carreira que pude fazer, sempre entre a vontade de jogar e a apreensão de levar vestidos uns trajes entre o pijama e o fato de presidiário. A meu favor, tenho a afirmar que, frente ao Benfica de Castelo Branco, falhei um golo isolado frente ao guarda-redes, obviamente não por falta de qualidade do meu pé direito mas porque me seria impossível escolher uma cidade ao meu clube e naquele jogo eu fui dos albicastrenses mesmo que o meu treinador não tenha dado por isso. No fim, ganhámos, e eu acho que vi umas lágrimas escorrerem pelo leão rampante que tinha no peito, não no coração, que esse estava nos peitos dos adversários.

Por tudo isto, e mais ainda que não foi dito mas talvez sê-lo-á um dia que decida escrever as minhas memórias destes tempos tristes, compreendem a minha alegria de camisola "10" de Valdo Cândido Filho quando cheguei a casa e o meu Avô me disse: "O contrato está rasgado, és um jogador livre. O Benfica de Abrantes este ano tem equipa".

terça-feira, 14 de junho de 2011

O triunfo da política ou a baía dos porcos

O Football Association — a Federação inglesa… — nasceu, com regras definidas e disciplina, em 1863, dentro de dois anos completará 150 anos. Em Portugal, a primeira notícia de um jogo, com as regras inglesas, datará de 1889, a ser verdade, o Football Association, em Portugal, completará 124 anos em 2013. Porquê esta digressão por coisas que são do domínio comum, acessíveis a quem tenha alguma curiosidade?
Desculpem, não são insignificâncias. 150 anos, século e meio, mesmo que para Portugal a conta tenha menos tempo. Mesmo assim, 122 anos são muito tempo, tempo mais que suficiente para que tenha sido produzido alguma análise cientifica — sem medo do vocábulo — que explique, com método e coerência, o porquê e quais a consequências de tal ou tais acontecimentos. Há muita “história” sobre o futebol português, sobre a cronologia, nenhuma com análise interpretativa. Por exemplo, para além da banalidade, alguém já leu alguma coisa sobre as razões que expliquem a erupção do Benfica na década de 60?

Não é um problema especificamente português, ninguém antes de Desmond Morris, tirou o futebol dos relvados e o projectou para o sociológico e a antropologia e Morris teve um papel decisivo na paixão que tenho pelo futebol. Bem, Carlos Drummond de Andrade, em diferente registo, fez algo semelhante.
Não sou Morris, nem um “historiador” e muito menos um cientista, melhor: não sou avaliado por tais critérios, ainda que seja considerado um especialista — um “assassino”— na minha actividade profissional.
O textinho que segue foi escrito há já algum tempo e aborda um dos meus temas favoritos: a política, “desportiva”, claro. È, por muito modesto que seja, é um dos primeiros textos interpretativos sobre determinados acontecimentos e quais as consequências, um trabalho quase original em Portugal. Refere o momento que marca o início da hegemonia portista, os factos e protagonistas que lhe deram origem e as consequências.
Ainda não era o poder absoluto, ou quase, esse momento iniciou-se em meados da década de 90, 95/96, quando através do domínio — da ditadura das Associações — a hegemonia se instalou, varrendo o Benfica de qualquer cargo de decisão. Na FPF tinham um presidente de consenso, um fraco chamado Madaíl, um carreirista, na Liga, o sinistro Dr. Aguiar como quase vitalício director-executivo, e na justiça e disciplina, os eminentes Drs. Lúcio e Mortágua. Resumindo, a fina-flor da cultura portista.
Como em todas as guerras, houve um momento determinante, uma batalha que na altura não pareceu ter importância e que os tempos seguintes demonstram que fora decisiva. Infelizmente no Benfica existe pouca memória, a maioria não sabe quanto custou a glória passada e muitos dos que, para proveito próprio, traíram o clube, passeiam-se pela tribuna VIP e são trados como “senadores” ou “notáveis”. Um dos “cavalheiros” é referido já a seguir.
Ocorreu em meados dos anos 80 e o nosso “Miguel Vasconcelos”, o ilustre comendador Fernando Martins. Como manda a tradição, essa capitulação foi feita fora do campo, nos gabinetes, talvez no “Altis”, entre “cavalheiros”.
O Sr. comendador tem duas qualidades que muito úteis lhe devem ter sido na sua carreira de “self made man”: vaidade e arrogância, o típico “chico-esperto” que subiu na vida e para uma pessoa destas, ser presidente, mandar no Benfica, imagine-se.
No tempo, Pinto da Costa acabara de reorganizar a sua própria casa, sobrevivera a Eriksson e estava pronto para redimensionar o clube. Fez uma análise correcta das fraquezas do Sr. comendador e esperou que a vaidade e a arrogância deste lhe dessem a oportunidade esperada. Salvo erro, no tempo, os dois clubes tinham apalavrado um “pacto de cavalheiros”, o compromisso de não aliciarem jogadores do outro.
No Benfica de então, os mais importantes jogadores, juntamente com Bento, eram Diamantino e Carlos Manuel. Os dois jogadores estavam em fim de contrato. Seguro no tal pacto de não agressão, o Sr. comendador, no seu “quero, posso e mando” levou a negociação aos limites da ruptura, com Pinto da Costa a mover-se habilmente, sendo óbvio que os jogadores, no limite, iriam para o clube nortenho. Incapaz de vergar os jogadores, finalmente consciente que as deserções poderiam verificar-se, o Sr. comendador vira-se para Pinto da Costa, o qual, muito amavelmente, lhe garante que não contratará os jogadores.
Foi o momento “histórico”: o Benfica mantivera uma influência no futebol que resultava mais da passada grandeza que da força dos seus dirigentes. A classe dirigente, fora dos dois clubes, percebeu quem era o novo patrão do futebol português, a transferência de poder estava iniciada.
Os sócios do Benfica aperceberam-se e correram com o Sr. comendador. Era tarde, os sucessores dos Sr. Comendador não viram ou não quiseram reconhecer o óbvio e aos oportunistas, tipo João Santos e Gaspar Ramos interessava aquele decadente Benfica, tanto que inviabilizaram o plano “Tadeu” — fins de 80, início de 90 — que poderia ter reerguido um Benfica completamente dependente do mecenato de Jorge de Brito, como se viu pouco depois, quando este precisou da maior do dinheiro que tinha emprestadado, o Benfica afundou-se, financeira e desportivamente e não foi responsabilidade exclusiva de Vale e Azevedo, como pretendem e querem enganar os adeptos, protegendo os outros responsáveis. Afinal, trata-se da “panelinha” ou de uma vaca leiteira chamada Benfica, um clube onde se cometeram as maiores barbaridades financeiras e desportivas e ninguém é responsabilizado, tal acontecerá com o presidente actual e a monstruosa e descontrolada subida do passivo

PS. O Sr. Comendador perdeu o Benfica e em troca, uma amizade eterna com o Sr. Pinto da Costa. Que bom para ele.