terça-feira, 31 de maio de 2011

Há 50 anos foi assim...

Sahara para os olhos

No meio de tanto mal-estar entre as linhas que escrevo e Vieira - e reflectindo sobre o que o Armando tem vindo a defender: uma maior pacificação no seio do clube - questiono-me sobre a onda que me tem levado a estar frequentemente do lado "oposto" das ideias do Presidente do Benfica. Quero dizer: após anos e anos disto, estou contra Vieira Presidente ou já transpus a linha do protocolo e estou inundado de um mal terrível, um mal que afectava até os Deuses na Grécia Antiga, um mal de veneno pútrido, cheio de ódio, vinganças e maleitas mil?
Não, eu não quero ser esse ser que esquarteja tudo o que mexe sem razão aparente ou minimamente legítima e justa. Se alguma vez cruzei a linha do profissional para o pessoal foi porque as duas, no limite, poderão cruzar-se, embora seja de uma avisada lucidez temermos sempre as verdades absolutas. A minha reflexão, os meus pensamentos, a minha escrita, as críticas que construo vivem na exacta medida daquilo em que acredito: defender o Benfica de lacaios, sejam eles representantes do mesmo ou agentes exteriores que o conspurcam e corrompem o futebol português.
Talvez o problema resida no facto de por vezes conviverem, elementos externos e agentes internos, numa estranha cumplicidade de objectivos, seja por manifesta maldade, seja por incompetência de quem nos gere.
Mas falemos, sem ódios, na entrevista que Vieira deu a uma das mais irritantes jornalistas da nossa praça: Judite de Sousa, uma parola armada aos cágados, sobre a qual a expressão "podemos tirar a pessoa da favela, mas não podemos tirar a favela da pessoa" - expressão, admita-se, de um nível de preconceito assinalável mas que, por servir de mote ao povo, acaba por de vez em quando acertar, mesmo que seja a excepção que confirma a regra - encaixa que nem batata ao murro numa parrillada argentina. O que disse, então, Vieira?

"Criem uma brigada no norte e no sul para investigar as transferências de duas ou três instituições ao longo dos últimos 10 anos. Por exemplo, dos dois primeiros classificados do campeonato [FC Porto e Benfica]. Há coisas que não se podem entender… Sei que criei muitos inimigos, sei que não vivo do Benfica, mas há outros que vivem do dinheiro do futebol."

Provavelmente, a coisa mais acertada que disse. Aproveitou a onda de suspeição, garantiu a abertura do Benfica em colaborar com a Justiça e atirou certeiro ao Papa, sobre quem, curiosamente ou não, dois dias antes tinham sido levantadas suspeitas sobre dinheiros ilícitos ganhos através de comissões. Claro que a isto, Judite de Sousa - que tem dois defeitos graves: não se prepara para as entrevistas e gere mal o seu portismo exacerbado - não reagiu decentemente. Perguntou apenas: "a quem se refere? Ao Porto?", como se fosse possível alguém neste país não saber, primeiro, que o Porto é um clube de corruptos e, depois, que o campeão foi esse mesmo clube. É esta a forma como a generalidade dos jornalistas trabalha o caso Papa e o caso Porto: leviandade, submissão, desvalorização. Vieira apontou a mira e bem. Palminhas neste particular para o nosso Presidente.

«O Benfica terá de fazer uma abordagem completamente diferente do que tem feito ultimamente, onde impere fundamentalmente humildade.»
Isto diz o Presidente mais fanfarrão de todos os tempos. Humildade? Mas 10 anos depois ainda estamos a tentar perceber qual é o caminho? Isto não é uma grande anedota? The joke was on him or on us?

«Já disse que iríamos fazer algumas alterações, pois no último ano não fomos tão competentes como outros para ganhar. Agora, isto não quer dizer que haja alguma divergência profunda com o Rui Costa. Se calhar, poderá fazer trabalho dentro do Benfica muito mais válido do que neste momento está a fazer, tal como eu também poderei fazer»

Todo o excerto é um erro monumental. Tudo aqui transpira a pobre desculpabilização, indecência, ingratidão e ignorância. Começa por - bem à tradição Vieirsta - sacudir a água do capote. Se houve incompetência, deveu-se ao facto de Rui Costa não estar preparado para as funções que ocupa - funções que lhe foram dadas pelo próprio Presidente e não o ano passado, mas há 3 anos, o que sugere que a liderança de Vieira não é baseada numa filosofia sustentada mas numa barcaça em que, conforme os ventos, a qualquer momento pode ser devorada pelas águas. Depois temos a confirmação de que não há uma, repare-se no termo, "divergência profunda", ou seja, há uma divergência, não é profunda mas há - assim se percebe o silêncio de Rui Costa. E para culminar temos não só a corroboração do primeiro acto - a entrevista à Benfica TV, que nos anuncia que Vieira vai "delegar menos" -, em que o Presidente diz que vai deixar de percorrer o país para se dedicar mais aos assuntos desportivos, o que faz crescer logo em nós a palavra "medo", tal é a incompetência do homem para estes assuntos, como também ficamos a saber que o Rui Costa vai "fazer outro trabalho dentro do Benfica, muito mais válido do que neste momento está a fazer". É caso para perguntar: vai cortar a relva, tratar das sanitas do Estádio, lavar os equipamentos dos iniciados A, preparar as sandes de mortadela e os joy maracujá para os escolinhas? Não sabemos. Só sabemos que Rui Costa vai deixar de ser Director-Desportivo e que Vieira vai assumir, ainda mais, a pasta do futebol. Sabemos que há divergências mas que não são profundas. Ou seja, não sabemos nada e o que sabemos, ou antecipamos, deixa-nos com o coração nas mãos.

«O Fábio tem uma cláusula de rescisão e disse-nos que no dia 22 estará na nossa casa, onde será sempre bem recebido. Se algum interessado quiser pagar a cláusula, não poderemos fazer nada»

Um clássico de Vieira. Trata o jogador pelo primeiro nome, diz que ele tem uma cláusula de rescisão e que quando começar a época ele lá estará - ele até se despediu dizendo isso, que estaria dia 22 na "nossa" casa. É tudo tão bonito, assim. E, claro, se alguém pagar a cláusula, "não poderemos fazer nada". Entendido, Vieira: sai por uns 22 ou 25. Percebemos.


"Os jogadores são como os melões: só depois de abertos, é que sabemos o que são"

Isto é um atestado de incompetência total a quem contrata jogadores e um claro assumir de que não tem unhas para este tipo de funções. Parece que voltámos a eras passadas, em que não havia prospecção, análise, vídeos, acompanhamento de jogos, etc. Mas nas eras passadas escolhíamos bem, se calhar porque não entrava no Benfica qualquer badameco que dava uns pontapés numa bola. Se calhar, porque antes de ingressar no clube tinha de ser analisado corectamente, visto à lupa, pensado, reflctido, convencido a entrar no clube se tivesse entendido a que realidade iria chegar. Dizer, em 2011, com todos os meios disponíveis para a prospecção, que os jogadores são como melões é de uma imbecilidade e incompetência que roçam e tocam o ridículo.

Claro que se falha num ou noutro jogador - questões de adaptação a um universo diferente, por exemplo -, mas a regra, se todos os pressupostos profissionais forem cumpridos, tem de ser a de identificar as lacunas no plantel, percorrer a prospecção existente, encontrar as soluções, analisá-las, compará-las e, no fim, depois de tudo visto e ter a certeza de ser essa a opção ideal, comprar o jogador. Não é assim tão complicado. Claro que para um incompetente na área, é e muito. Mas quanto a isso temos razões para estar ainda mais descansados, porque Vieira, assumindo a sua incapacidade para o cargo, decidiu ainda delegar menos. Eu já não sei o que diga sobre isto.


Uma nota final: "Fernando Viagra"? O homem disse mesmo isto, não disse? Eh pá, que baixeza. E vocês querem isto para Presidente do Benfica?


segunda-feira, 30 de maio de 2011

Vieira na TV - Aceitam-se apostas!

Este blogue oferece um jantar à pala, com prenda especial incluída, no primeiro encontro do Ontem vi-te no Estádio da Luz (que ainda não tem data marcada e nem sabemos se terá) a quem acertar nas palavras exactas que o nosso Presidente vai usar para, mais uma vez (a milésima?), desmentir-se a si próprio e justificar a saída de Coentrão por valores abaixo da cláusula, depois de uma semana em que o jogador, forçado por alguém?, abriu as portas à saída.

Começo eu: "O Fábio é um grande jogador, tem contrato com o Benfica e tem uma cláusula. Agora, não podemos ser insensíveis à vontade do jogador e às condicionantes do próprio mercado".

Agora tu, jovem!


domingo, 29 de maio de 2011

Quo vadis, Benfica?

Obrigado, Ricardo. Infelizmente receio não estar à altura do desafio. Há mais de 15 anos que a minha paciência e tolerância benfiquistas não cessa de se esgotar e, no presente, depois da desastrada temporada e do que se pode prever da próxima, tenho dúvidas se ainda tenho paciência para aturar a coisa em que se tornou o Benfica ao longo desses anos. Tal como na política, é a mesma sensação de futilidade, de impotência e de “não valer a pena”, as sucessivas direcções, tal os governos, olham os sócios e adeptos como meros contribuintes líquidos e submetidos ao formalismo eleitoral.

Felizmente, o inimigo — tal qual, sem aspas — por estupidez e cegueira cultural, não consegue fazer o que seria óbvio, a tantas vitórias não corresponde um crescimento que, sendo evidente, nomeadamente nas estruturas de poder e comunicação social — onde é quase totalitário — não tem correspondência com o sucesso estatístico. E, garantidamente, não pode mudar a matriz basicamente regionalista, o que não deixa de ser um pobre consolo para o benfiquismo, a sensação de grandeza por falta de comparência do rival.

Diz-se, como verdade absoluta, dentro e fora do Benfica, que o rival tem e nós não uma “política desportiva” e era minha intenção abordar o tema, com certa profundidade. Porém, aqui chegado, surgem as dúvidas e a insegurança. Será que os companheiros podem ajudar, fazendo contributos sobre o que entendem por “política desportiva”? Notem que não é um desafio, é apenas resultante da necessidade de conhecer, no interior do benfiquismo, o que se sente sobre esta questão magna que separa o sucesso do insucesso, os vencedores dos falhados, fato que vimos talhando paulatinamente.

Um exemplo: o treinador Aleksander Donner, precisou de dois anos para tirar o andebol do Benfica da mediania e ser campeão. Foi despedido, como prova de gratidão. Contrataram um “doutor” em andebol, meteram-se numa guerra com as estruturas académicas do rival e vai no terceiro ano de insucesso desportivo e três campeonatos para o rival. Veremos se não vai acontecer no futsal, onde André Lima foi despedido depois do título europeu.

Estão a ver o porquê das minhas dúvidas?

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Bem-vindo, Artur (para acabar de vez com a conversa sobre o Roberto)


Artur será o novo guarda-redes do Benfica. Ainda bem. Um excelente negócio - a custo zero, experiente, conhecedor do futebol português, com vontade de mostrar serviço ao mais alto nível, humilde por estar no Benfica, com muita qualidade - que vem a seguir a um patético negócio. Perceberam tarde mas perceberam. Mas há quem insista na teimosia estupidificante.

A conversa de que Roberto foi minado, de que se não fossem os 7 anões a dizer mal dele ele tinha feito uma época excelente, é, desculpem o termo, parvo. E ignorante. Um jogador ou tem qualidade ou não tem. Ou tem estofo ou não tem. Quem defende questões psicológicas do Roberto para justificar a época miserável que fez, das duas uma: ou é cego e completamente submisso a quem manda no Benfica e portanto tem de defender seja de que maneira for as acções dos dirigentes e treinador ou vive numa realidade alternativa em que os do Benfica são todos bons e está toda a gente contra nós e a culpa é dos outros e nós, se não fosse o Mundo acabar daqui a uma semana, seriamos campeões do Mundo.

O problema disto? É que prejudicam o Benfica. Se a avaliação tivesse sido feita logo na altura - aliás, nem devia ter sido comprado, mas enfim... - em que chegou, com a imediata substituição por Júlio César ou mesmo Moreira (qualquer um é mais seguro que o espanhol), o Benfica tinha feito uma época melhor. Não sabemos se teria chegado para vencer mais coisas mas sabemos que teria sido bem mais segura. Porque a questão do GR não é só a questão do GR.

Uma defesa, uma equipa!, que sente pouca confiança no jogador que defende as redes da própria equipa, é uma defesa, uma equipa, muito mais insegura. E isso influi na prestação tanto individual quanto colectiva. A forma como o Benfica este ano não exerceu em muitos momentos do jogo uma pressão mais alta e compacta deveu-se muito às hesitações naturais dos defesas que não esperavam da parte de Roberto a compreensão do modelo. Mais importante ainda: as bolas paradas. Claramente mexeram com a forma fantástica como, no ano anterior, a equipa as defendia. Porque reconhecia ao Quim a sabedoria de entrar a varrer se assim o tivesse de fazer. O Roberto não, vai não vai, fica a meio caminho, sai e não acerta na bola, uma tremideira constante.

Não dá. É pena que muitos só agora o vejam mas pelo menos que o vejam agora e não
insistam mais neste autêntico negócio desastroso.

E, sim, não me venham com conversas de merda de que falamos muito no valor por que foi comprado. 8,5 milhões de euros? Mas estão a brincar com quem? Que merda de negócio é este? Alguém achou que o Roberto valia um valor despropositado deste? Mesmo que o homem foss emuito bom, teria sido um exagero. Assim, foi desastroso, foi ruinoso, foi uma vergonha. E, digo-vos, não me espanta absolutamente nada que apareçam notícias sobre este negócio. Não digo estas de ontem e hoje, digo no futuro. Só percebo este negócio à luz de alguém ter arrecadado uns milhões por debaixo dos panos. É que nem o Vieira é tão tapado para achar que o Roberto vale 8,5 milhões de euros.

Defendam o Benfica, caralho. Não defendam interesses próprios ou ilusões parvas ou conspirações demenciais. Coitadinho do Roberto? Coitadinho é de mim, foda-se.

Nem 20 anos de seca nos retiram do poleiro dos Colossos


(imagem roubada daqui)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Um clube de pobres de espírito




Isto, que aí está em cima, é das coisas mais baixas que já vi. Que os adeptos portistas (muitos mas não todos, felizmente) pensem 24 horas no Benfica e que, estejam em Dublin prontos a ganhar uma Liga Europa estejam no Jamor quase a ganhar uma Taça de Portugal - mesmo que o adversário não seja o Benfica -, cantem canções aludindo ao trauma que tiveram, têm e terão, um trauma provinciano, pequenino, que os adeptos, dizia, tenham essa mentalidade de pobres de espírito, enfim, não entendendo nem defendendo, procuro compreender já que aquelas cabecinhas tontas não sabem mais.

Que os jogadores dêem este exemplo vergonhoso, cantando SLB, filhos da puta, SLB, já ultrapassa tudo.

Podem ganhar muitas vezes, muitas delas sabemos bem como. Mas o exemplo que dão, do Presidente ao gajo que limpa as sanitas, passando por jogadores e adeptos, foi sempre do mais triste possível. Um clube de gente sem nível nenhum.





terça-feira, 24 de maio de 2011

O que eu vi em Braga - Parte 2 - A cidade corrompida por Pinto da Costa

À entrada de Braga há um túnel. Não o mundialmente conhecido pelos pontapés de Vandinho mas outro, mais perto da estação de comboios, por onde passam carros, ciclomotores, animais e, de vez em quando, um ou outro bezano que se perdeu na noite.

Naquela tarde cheguei ao túnel faltavam 3 horas para começar o jogo e o trânsito parecia uma procissão religiosa, uma língua de carros em filinha pirilau, muito deles com bandeirinhas e cachecóis dos dois clubes. Mais do Braga, naturalmente, não por serem em maior número mas porque os benfiquistas de há uns tempos a esta parte decidiram não dar muito nas vistas para cima de Coimbra não vá o diabo tecê-las. Ainda assim, na amálgama lenta da procissão, estavam duas bravas viaturas que exibiam o seu clubismo desbragado - nenhuma delas a do vosso escriba (sempre gostei de manter os vidros incólumes) -, que rapidamente foram alvo dos fervorosos adeptos do Braga que se encontravam numa espécie de ponto alto estilo ponte de viaduto. Pareciam animais raivosos,

Ó filha da puta, tira-me essa merda daí, caralho!

Essa merda era um cachecol do Benfica no vidro traseiro do carro. Perto de um destes senhores, encontrava-se uma criança, supostamente filha do quadrúpede, que olhava não para o cachecol alvo da ira dos fanáticos mas para cima, para o suposto Pai, com um olhar entre a incredulidade e a incompreensão. O Pai não desarmava, empoleirava-se no varão, quase caía, aos gestos, aos cuspos, aos insultos e o pequeno bípede a pensar se a divindade genética lhe teria pregado alguma partida de mau gosto.

Volta para a tua terra, mouro do caralho!

E o malandro do benfiquista sem retirar o cachecol, a afrontar os escandinavos portugueses numa quezília que lembrou guerras antigas, na altura em que os bárbaros decidiram descer as escadas da Europa e vociferar contra esse conceito de Sul que a muitos ofende e discrimina. A este excelso animal, outros se juntaram enquanto os carros lentamente entravam na cidade. Não houve feridos, que se saiba. Mortos, muito menos. Na mistura das ruelas bracarenses, todos se diluíram. O jogo estava próximo. Havia que beber.

Parei o carro numa praça. Lembro-me vagamente de passear com o meu Pai por aquelas pedras minhotas já lá vão dois milénios. As pedras mantêm-se, oculto mistério que nem a ciência das estruturas consegue entender. Já a hospitalidade mudou uns continentes desde que há 10 anos por ali andei a fingir estudar. Perguntei a um velhote se devia deixar o carro ali ou levá-lo para mais perto da Pedreira. Os anos avisados do senhor deram-me a resposta esperada

Você vem de Lisboa, não vem? (tudo o que não seja gente com sotaque do Norte, vem de Lisboa)

Não, mas se quiser posso vir.

Então vem de onde? (é importante termos registos sobre a proveniência das pessoas, antes de darmos algum conselho)

Do Porto.

Ah está a estudar no Porto? (é fundamental, antes de darmos algum conselho, sabermos onde estuda a pessoa)

Não, mas estudei em Guimarães.

Em Guimarães? Ó amigo, você devia era ter estudado aqui.

Pois, pois devia. Mas é a mesma Universidade.

A Universidade do Minho é em Braga. Em Guimarães é só um pólo pequeno. É uma filial. (e fez-me aquele olhar malandro, de quem sabe ser dono do Mundo)

Gosto de Guimarães, é mais pequeno, lembra-me a minha cidade.

Então mas você não é do Porto?

Não bem, sou mais da província. (Abrantes pode ser considerada província do Porto, numa análise mais complexa da geografia)

De onde? (este lado pidesco dos portugueses é deveras interessante)

Olhe, estou com pressa. Deixo o carro aqui?

É melhor. Até porque você como benfiquista é capaz de vir a ter problemas à saída do estádio. (touché!)

Obrigadinho, caro velhote bracarense. Além de um conselho útil, pude confessar-me. Um dois em um que nos tempos que correm vale ouro.

Carro largado, hora de beber. Meto-me pela rua que vai dar à estação e entro no primeiro café. A sede era muita. Fico ao balcão, como convém a quem está sozinho e quer dois cérebros de conversa. Ou meio, vá, que não podemos ser exigentes.

É uma imperial fresquinha, se faz favor.

Não temos fino (fino, claro).

Venha média.

Sagres ou Bock? (aquele primeiro degrau que tudo explica)

(confundo-lhe as voltas) Super!

(silêncio com o som da cerveja a despejar em diagonal para o copo)

Você é de Lisboa, não é? (a pergunta mais ouvida em Braga naquele dia, importante para os arquivos dos arcebispos)

Sou.

Vem ver o jogo?

Venho. Entre outras coisas.

Que coisas? (assim, como um familiar. Ou como um pide. Mais pide, pelo subversivo do tom)

Venho ver um amigo. Aliás, ele já deve estar a chegar.

É de Braga o seu amigo?

Não, mas trabalha cá.

É de onde?

De perto do Porto. (mais uma vez, Abrantes como Ermesinde)

Ah… (um olhar desconfiado)

Então e o amigo? Não me diga que é de Olhão!

Hoje está um boa dia para o futebol (faz muito bem em não responder, então agora temos de falar destas coisas com estranhos?)

Está bom para beber. O jogo ainda não pensei nele.

O Braga vai ganhar.

Pode ser. Espero que não.

Ah é do Benfica? (com um ar falsamente surpreendido)

Sou. E você é do Braga, presumo.

Sou. Vocês antes tinham muita gente aqui do Benfica. Agora já ninguém é.

É, é. Estão é mais escondidos. E há aqueles que de repente deixaram de ser. O que é estranho.

Estranho? Não, deixámos de ser dos clubes de Lisboa para ser do da cidade.

Acho bem. Mas o amigo tem alguma preferência além do Braga?

Sou do Sporting. Desde pequenino.

Ah…

Mas agora com o Braga a ganhar sou do Braga.

Pensava que o clubismo não se mudava.

Então não muda! E também sou do Porto, às vezes. Do Benfica é que nunca.

Porquê?

Porque quando o Braga era amigo do Benfica, nunca ganhava. Agora com o Salvador o Porto ajuda-nos.

Ajuda como?

Dá-nos jogadores, somos respeitados pelos árbitros.

Ah…

Agora odiamos o Benfica.

Mais uma média, se faz favor. Odeiam? Porquê?

Porque são do Sul e nós somos do Norte!

Então mas você não é sportinguista?

Ah mas o Sporting não faz mal a ninguém.

E o Benfica faz?

Faz. Odiamos o Benfica.

Está certo. Olhe, eu não odeio o Braga. É uma boa equipa.

O ano passado íamos sendo campeões! Se não fossem os árbitros.

Aquela bola fora de campo que deu golo e a arbitragem contra o Guimarães não dizem muito isso.

O quê? Contra os espanhóis? Foi uma roubalheira.

Pois foi. A favor do Braga.

Ó amigo, quer mais uma?

Quero. Olhe, que seja um bom jogo de futebol. Sem pedras.

Quando é com o Benfica, não podemos garantir.

Porquê? É só um jogo.

Mas é o Benfica. Odiamos o Benfica.

(nisto chega o empregado do café, benfiquista, que faz um reparo)

Aqui o meu chefe é daqueles que era do Sporting mas que agora é mais portista que os portistas-

Então mas não era do Sporting?

Ele é de quem ganha.

Ah, então percebe-se que não seja do Sporting.

E odeia o Benfica.

Pois, o seu chefe já me disse. Mas fiquei sem perceber porquê.

Nem ele sabe bem. O que está a passar em Braga nos últimos anos é um fenómeno inexplicável. Eu já não posso ir a café nenhum. Se sabem que sou do Benfica, insultam-me, não me deixam quieto.

Mas há muitos benfiquistas como tu aqui.

Há, mas não se assumem. Têm medo. Olha, aqui ao lado há o café Benfica.

Ah, então esse deve ser um bom sítio.

Bom sítio? Aquilo é um lugar de ódio. Têm cachecóis do Braga por todo o lado e não deixam os benfiquistas irem lá.

Hmmm? Mais uma média.

Era de um benfiquista. Agora se vais lá ver um jogo, eles passam o tempo a dizer mal e a insultar.

Não deve ser fácil viver com esta realidade.

(um olhar perdido, triste) Nada. O ano passado passei o ano a ouvi-los, fui agredido.

Pelo menos fomos campeões (uma tentativa desesperada de optimismo da minha parte).

Fomos, mas nem pudemos festejar. Quando estávamos nas ruas, vieram uns gajos da claque do Braga e outros, muitos, Superdragões que começaram a agredir e a insultar.

E a polícia?

Não fez nada. Tivemos de sair dali.

(viro-me para o chefe, que estava a ouvir a conversa) Isto não está bem, ó chefe. Então o rapaz não pode festejar?

Eles que vão festejar para o caralho!

(o empregado para mim) É isto que vivemos aqui, desde que o Salvador chegou.

(nisto chega o meu amigo) Ricardo, tu vê lá o que dizes, que ainda acabas numa confusão de primeira.

Calma, estamos só na conversa.

Sabes o que me aconteceu (o meu amigo o ano passado foi agredido por 8 (!) gajos da claque do Braga porque estava a comemorar o campeonato de… basquetebol)

Sei. Vamos beber e fumar um cigarro lá para fora.

(fomos, eu, o meu amigo e o empregado fumar um cigarro cá para fora e o empregado) Vocês têm sorte em viver lá em baixo. Não fazem ideia do que é isto, aqui. Gente agredida, outros que já nem saem para ver jogos nos cafés, outros que já nem dizem que são benfiquistas. Estes gajos são uns fanáticos. E a mesma gente que antes tinha uma atitude de respeito. Alguns deles até eram do Benfica.

Mas o que é que mudou?

O Salvador. Desde que chegou, tem imposto uma cultura de ódio ao Benfica. O mais estúpido é que as pessoas não pensam por elas. Vão todas em rebanho.

Mas isto não pode ser só gente de Braga.

Claro que não. Há portistas que vão ver os jogos do Benfica para os cafés só para arrumarem confusão. Os superdragões vêm sempre que o Benfica joga na Pedreira. Este ano muitos dos que fizeram aquela confusão toda foram gajos do Porto. O ano passado vieram para evitar que os benfiquistas de Braga festejassem.

E os bracarenses não se insurgem contra isso?

Claro que não. O clube está patrocinado pelo Porto, vai ganhando mais vezes. Isto aqui é pior que no Porto.

(entrámos no café. Bebemos mais umas e fomos para o estádio. À despedida, o sportinguista que é do Braga, às vezes do Porto e nunca do Benfica)

Vejam lá, tenham cuidado!



O resto foi estádio. Um jogo de futebol. Que correu mal para o Benfica, apesar de ter sido muito melhor. No fim, à saída do Estádio e apesar de terem ganho, umas centenas de adeptos bracarenses esperavam a saída dos benfiquistas. Uma corrente de polícia a segurar os cães com raiva e eu a ver aquilo muito mal parado. Crianças, mulheres, velhotas pelas ruas de Braga a chamar nomes a quem levava o cachecol do Benfica. Gente que educa os filhos, que paga os impostos, que compra o pirilampo mágico. Gente. A mesma que, toldada pelo sucesso do Braga, se esquece de que vive em sociedade e, potenciada pelos métodos portistas de décadas, faz de Braga uma filial nojenta do Porto. O mesmo ódio naquelas caras, a mesma raiva, os mesmos animais.

Tenho um grande amigo, o Sérgio, deste mesmo blogue, que me diz que temos (clube) culpa de nos odiarem. Pela petulância e arrogância com que os nossos dirigentes falam e que os adeptos, alguns, seguem. Discordo. Há, é verdade, uma mania de grandeza por vezes estupidificante entre os benfiquistas mas nada, NADA, justifica estes comportamentos desta gente de cidades fantásticas como Braga e Porto. Nada, NADA, justifica este estado de espírito, esta venda dos princípios morais. Por muito que se ganhe. Por pouco que se ganhe. Quem perde é o país. Perdemos todos.

domingo, 22 de maio de 2011

Pereirinha - um talento em bruto

Gosto pouco de comparações. Muito menos entre grandes jogadores porque elas incorrem sempre num erro básico: procuram comparar o incomparável.

É impossível comparar jogadores porque todos os jogadores são diferentes. Podemos comparar características específicas, modos de pensar o jogo, números de eficácia, qualidade na interpretação do que lhes é pedido, inteligência intrínseca, rapidez de raciocínio, capacidade técnica. Se isoladas, estas são funções que podem ser comparadas. Mas convém não retirar delas conclusões definitivas. Um jogador pode ser em todas melhor do que o outro e no geral ter um rendimento inferior. Isto porque não chega definirmos o jogador sob o foco do rendimento individual ou das características inatas que tem. Retirar da análise a forma como se enquadra no colectivo, se é bem potenciado pelo técnico, se a posição que ocupa é a ideal para as suas aptidões, se a polivalência pedida o beneficia, é incorrer no erro de desprezar o que se pode chamar de potencial futebolístico do atleta.

A comparação mais recorrente na actualidade passa pelas longas discussões sobre se, entre Messi ou Ronaldo, há um melhor do Mundo. Não há. Porque esse é um conceito despropositado. Se num desporto individual, é possível chegar mais perto de uma verdade desse género - ainda que não factual e muito menos geradora de consensos - no futebol a simples interrogação posta nesses moldes é, mais do que ignorância, uma profunda e prolongada estupidez. Messi não é melhor do que ninguém apenas porque finta mais adversários ou marca mais golos ou descobre mais espaços que os outros. Messi é Messi e chega. Messi é um enormíssimo jogador de futebol. Ronaldo não é melhor nem pior, é outro enormíssimo jogador de futebol. E chega dizermos isto. Não são comparáveis. Não são sequer equiparáveis porque um e outro têm formas tão distintas de ser e ver o futebol que se torna criminoso analisar, de forma leviana e parola, se este é melhor porque marca mais golos ou se o outro é melhor porque joga mais bonito. Reduzi-los a uma equação matemática é não compreender o que é fundamental: a qualidade que os dois possuem.

Discutir Messi e Ronaldo, como se de deuses se tratassem, sem discutir Iniesta, Xavi, Fabregas, Scholes, Rooney, Busquets, Piquet, Sneijder, Falcao, Aimar, entre tantos outros, é menorizar o que é o futebol, caindo falaciosamente numa bipolaridade qualitativa ao estilo americano de Hollywood em que tudo é medido e analisado à lupa com intuitos de conclusão definitiva. É transportar o futebol para um universo de números e gráficos sem que se entenda que os números e gráficos estão e estarão sempre condicionados pelos factores exteriores ao próprio jogador: qualidade dos colegas, ideia de jogo do treinador, capacidade dos adversários, adaptação do próprio a todos esses elementos, etc.

Dito isto, queria apenas deixar uma ideia: Pereirinha seria uma excelente contratação. Principalmente tendo em conta o modelo e filosofia de jogo que Jesus tem.

sábado, 21 de maio de 2011

Armando assina pelo Ontem vi-te no Estádio da Luz a custo zero

A Direcção deste blogue admite que os festejos do ano passado toldaram a clarividência dos escribas presentes e por esse facto promete uma próxima época na qual não serão cometidos os mesmos erros. Mais humildade, mais trabalho, fazendo de cada post uma final será a mentalidade vigente daqui para a frente. Estamos conscientes das falhas, remendá-las-emos e prometemos aos leitores que tudo mudará daqui para diante.
Sabemos também que o plantel denotou desequilíbrios. Por exemplo, quando nas alas falhava o Ricardo ou o Sérgio, era um caos porque não tínhamos mais ninguém disponível; a lesão logo na pré-época do médio defensivo RogerAjacto também não ajudou. O desaparecimento do central Americano da face da terra deixou o plantel, mais do que desequilibrado, profundamente frágil ao nível emocional. E mesmo a contratação de Janeiro numa tentativa de preencher lacunas evidentes e dotar o grupo de mais qualidade no miolo, o Mr. Shankly, não trouxe os resultados esperados, muito pelo facto de Mr. Shankly ser um trabalhador-blogger, dividido entre o escrever posts e deixar o sangue no seu ofício.
Por todas estas razões, decidimos accionar o nosso excelente programa de prospecção ao nível da blogosfera e, tendo em conta o orçamento reduzido, procurar encontrar uma pérola a baixo custo. As conversações já vêm sendo feitas há vários meses e hoje podemos anunciar aos leitores e à CMVM a contratação a título definitivo de Armando, o ponta-de-lança que nos faltava e de quem se espera poder rivalizar com Falcao na qualidade e quantidade de golos marcados.
Sabemos que o Armando é para os adeptos do blogue um perfeito desconhecido. Temos presente que muitos duvidarão e questionarão esta contratação surpreendente. Mas, tal como David Luiz, acreditamos que, dentro de um ano, o escriba Armando valha nos mercados blogosféricos 20 ou 30 vezes mais do que nos custou. Aproveitamos também para anunciar que queremos manter Armando por muitos anos e que esta sua vinda para o blogue não serve de ponte aérea para nenhum grande blogue europeu porque nesse patamar já ele está.

Ao Armando, as boas-vindas. E que seja a revelação da temporada blogosférica.


quinta-feira, 19 de maio de 2011

O que eu vi em Braga - Parte 1 - A viagem

Tarde solarenga, propícia à janela escancarada e ao motor em movimento. O essencial estava no carro: garrafas de água, rádio ligado, tabaco e, claro, o cachecol apertado no vidro traseiro para anunciar ao que ia.
Até à portagem, pouco sinal de vida benfiquista. Uma buzina aqui, um puto no carro à frente a olhar para trás e a dizer-me adeus, alguns olhares cúmplices, tímidos, e pouco mais. Estava calma a tarde das meias-finais da Liga Europa.
Passados os primeiros quilómetros depois da portagem, então sim, a romaria parecia querer aparecer e vi de tudo: desde os clássicos cachecóis no vidro às bandeiras no vidro de trás. Mas o vencedor da A1 foi um gajo que levava o carro todo vermelho, coberto de bandeiras e cachecóis por todo lado (até nas jantes!) e uma bandeira gigante de 3 metros enfiada entre o banco do pendura e a porta. Ultrapassei-o, buzinei, disse-lhe adeus e... nada. Com uma cara enfiada na estrada, o braço esquerdo tapando o vidro, este benfiquista, apesar de todo o festival circense da viatura, ia deprimido. Não sou dado a superstições mas aquela expressão de enfado alertou-me para uma noite de mágoa.
Cabelos ao vento, sol em barda, música boa, buzinadelas cúmplices depois, páro na estação de serviço de Pombal para um natural soltar das águas e uma cerveja fresquinha que a sobriedade começava a parecer coisa absurda.
Encontro o nosso deprimido sentado em frente a um pão com chouriço e, claro, uma mini Sagres. Não resisto e comento-lhe a festividade benfiquista que transporta no carro. Meio resmungão, lá me responde que os filhos o ajudaram na decoração. "Está bonito", digo, e avanço aquele número conhecido: "hoje é para ganhar!", ao que ele me responde: "não acredito". Segundo sinal de preocupação, mesmo não sendo supersticioso. "Então o amigo vem todo armadilhado até Braga e não acredita?", digo eu numa última esperança de que o destino nos moldasse a tragédia. "Foi uma promessa que fiz no jogo na Holanda, mas acredito pouco neste Benfica". Respondi-lhe qualquer coisa automática, "não diga isso!" ou "vai ver que tem uma surpresa" e aproveitei para fugir daquele mau karma enquanto podia.
À saída da área de serviço, um gajo sentado na relva a pedir boleia, com um atrelado de coisas, entre a guitarra e duas malas cheias de não se sabe bem o quê. Páro o carro, ele chega-se perto, analisa-me e acha que eu sou merecedor de lhe dar boleia. Os carros atrás à espera e ele a encher o banco de trás com tralha de 5 anos de vida nómada.
Era húngaro. Nome? Miklós (karma, karma, sai de mim). Para onde, Miklós? "Porto" (Karma?). Deixo-te em Gaia, Miklós, que o trânsito no Porto é uma afronta à humanidade e eu tenho um jogo para ver mais a norte. De Pombal até deixar o húngaro, esqueci o futebol.
Falámos de assuntos menores: da vida, da sociedade, de como viver nela, com quem viver nela, de quem fugir dela, e outros assuntos menores como a agricultura biológica, o estado do planeta, religiões alternativas e a possível vida em Marte. Foi bom. Serviu para esquecer o essencial e as superstições negativas que vinham vindo atreladas ao meu carro desde que saí de casa.
Em Gaia despedi-me do Miklós, dei-lhe umas garrafas de água, que ele recebeu por simpatia embora prefira, palavras dele, a água dos canos. Despediu-se de mim com um "os portugueses são mais humanos que os espanhóis" e deixou-me no carro um colar. Adeus, Miklós, encontramo-nos na Índia.
Ainda esquecido ao que ia, rapidamente o destino mo lembrou: à saída da área de serviço estava o nosso companheiro benfiquista encostado à berma a retirar toda a indumentária do carro. Compreende-se. Como o mundo anda, é melhor preservar as viaturas às pedras, aos escarros e aos insultos. O benfiquista ia deprimido mas não ia seguramente desavisado. Fiz-lhe um aceno, ele não respondeu e eu segui até Braga sem passar pelo Estádio do Dragão não fosse o destino dar-me mais notas musicais da ópera bufa que iria ver de seguida.
Chegado a Braga, parei o carro ao pé da estação de comboios (onde um amigo me vinha encontrar) e fui beber médias para o pé do Café Benfica, que é um café onde as pessoas odeiam o Benfica - na segunda parte, vão perceber o fenómeno.
O dono era um antigo sportinguista, agora do Braga, às vezes do Porto e nunca do Benfica. E eu fiquei sem saber se o Miklós tinha conseguido encontrar a comunidade de ocupas lá para os arrabaldes do Douro.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Que país é este que elogia e promove corruptos? (Versão para os surdos)

Há gente sem escrúpulos nenhuns. Primeiro, fizeram uma imitação do Jacinto Paixão, adulterando a voz de um outro alentejano que passava pelas ruas na tentativa desesperada de difamar o bom nome do Futebol Clube do Porto. Naturalmente, foram refutadas todas as ideias que indiciavam acções de corrupção. Não satisfeitos com a argumentação fabulosa de quem defende Pinto da Costa e seus cães, perdão, seus comparsas (uma argumentação que tem como ponto fundamental este: os resultados desportivos. O que é de um nível de sofisticação só ao alcance dos génios porque não há de facto melhor forma de refutar uma acusação de corrupção do que com os resultados que a equipa teve; não há) arranjaram forma de colar a cara do Jacinto Paixão e dar-lhe animação para que pareça que o ex-árbitro está de facto a admitir que foi aliciado e corrompido por gente ligada a esse clube honrado e digno de sede na gloriosa cidade invicta. O que é que vão inventar mais? 





Mas a cabala não acaba aqui. São tantos os tentáculos do Benfica por essa imprensa fora, especialmente em Espanha, onde o Benfica tem gente inserida em tudo o que é jornal, que - imagine-se - a "Marca" há duas semanas dava conta de um jantar entre António Garrido, Reinaldo Teles e o árbitro do jogo Porto-Villarreal. O mesmo modus operandi! Não acham coincidência a mais? Nem criatividade têm os dirigentes do Benfica para a invenção! Então quer dizer que estes dois dignos representantes do Futebol Clube do Porto iriam enveredar por caminhos sinuosos, por caminhos ilícitos, especialmente Reinaldo Teles, empresário de sucesso no ramo da importação/exportação de fruta fresca e exótica? Não digam mentiras, seus maus perdedores. A "Marca" é claramente controlada pelo Benfica:


«Directivos del Oporto cenaron con el árbitro tras el partido contra el Villarreal
 
Reinaldo Teles y Antonio Garrido, implicados en el caso 'Pito Dorado', acudieron al restaurante con el holandés Kuipers · También cenó allí el presidente Pinto da Costa


El Oporto, rival del Villarreal en las semifinales de la Europa League, incumplió el pasado jueves una de las reglas más importantes que marca la UEFA: la prohibición expresa de que directivos o miembros de cualquiera de los equipos contendientes acompañen a los árbitros del partido durante su estancia en la sede del choque. Y mucho menos, que coman o cenen con ellos.

Tras ciertos casos de corrupción aparecidos hace algunos años, el organismo que regula el fútbol europeo incide mucho en velar por cualquier tipo de conducta que pueda dar lugar a presuntas irregularidades. Y así lo expresa nítidamente en su reglamento: "Durante su estancia en la sede del partido, los árbitros deben ser únicamente atendidos por un enlace que será un representante oficial de las asociaciones nacionales del equipo anfitrión (artículo 20.08 del capítulo XIII)". Es decir, sólo puede acompañarles alguien de la Federación o del Comité de Árbitros.

Pero, según ha podido saber MARCA, esta regla se incumplió gravemente la noche del pasado jueves, cuando el holandés Bjorn Kuipers, encargado de dirigir el choque entre el club luso y el Villarreal, cenó con varios directivos y personas estrechamente vinculadas al Oporto en el mismo restaurante.

Kuipers cenó en la Marisqueira de Matosinhos -de la localidad del mismo nombre situada a 10 kilómetros de Oporto- con Reinaldo Teles, directivo del club portugués y persona de gran confianza del presidente de la entidad, y con Antonio Garrido, ex árbitro luso que colabora con el Oporto.

A lo largo de la cena, el asunto fue más allá cuando ¡el propio presidente! Jorge Nuno Pinto da Costa también apareció en el exclusivo restaurante de la Rua do Roberto Ivens.

La UEFA no ve con buenos ojos estas prácticas, sobre todo teniendo en cuenta que Pinto da Costa, Teles y Garrido estuvieron involucrados en el escándalo de corrupción arbitral que salpicó al fútbol portugués en 2004 conocido como 'Pito Dorado'.

Escuchas telefónicas

Teles y Garrido no fueron condenados porque la justicia portuguesa no aceptó como pruebas las escuchas telefónicas. El caso se saldó -además del descenso administrativo del Boavista y cinco árbitros suspendidos- con dos años de suspensión para Pinto da Costa y una sanción de seis puntos en Liga para el Oporto, que además fue apartado de la Champions League 2008-2009. Esta sanción fue posteriormente revocada por el Comité de Apelación de la UEFA.

La actuación del holandés Kuipers en dicho partido (que concluyó con un contundente marcador de 5-1 a favor de los portugueses) se saldó con tres tarjetas amarillas para los castellonenses -Catalá, Borja y Diego López-, un penalti señalado a favor de los locales y la reclamación de un posible fuera de juego en el cuarto gol del Oporto.

Ante la sospechosa irregularidad de esta cena, el Villarreal podría plantearse ahora presentar una reclamación ante la comisión disciplinaria de la UEFA, el mismo órgano al que iba dirigida la demanda presentada por el Real Madrid contra los jugadores del Barça, que fue desestimada el pasado lunes.»
 


É a inveja de quem não ganha. De quem precisa de atacar os outros, é o que é. E não ficou por aqui, este plano para manchar o bom nome da instituição portista. Depois de ter sido refutada a notícia anterior com um argumento estupendo sobre uma suposta ligação fraternal entre capitais Lisboa e Madrid, numa luta contra os malandros dos provincianos catalães e portistas, surpreenderam-nos a táctica de defesa quando, há dois dias, vem de Barcelona mais uma bomba de hidrogénio: o jornal ligado ao clube a que o Porto se tenta desesperadamente colar (como se tivessem, um e outro, alguma coisa a ver em termos de dignidade e postura), o "Sport", traz mais uma difamação inaceitável:


«CORRUPCIÓN EN EL OPORTO QUE ENTRENABA MOURINHO

Jacinto Paixao, uno de los árbitros implicados en la investigación que se abrió en 2004 en Portugal a raíz de descubrirse una gran trama de corrupción en el fútbol portugués, reapareció ayer para confesar. Si cuando todo lo que rodeó al `Silbato dorado¿ hace seis años quedó impune ante la justicia, el ex colegiado ha decidido romper su silencio para dar veracidad al escándalo... Y poner en la picota al Oporto de Pinto da Costa. Y de José Mourinho.

Campeón de Liga en 2003 y en 2004, aquel magnífico Oporto tenía sus puntos oscuros. De acuerdo a la confesión de Paixao, era habitual que el club `cuidase¿ a los colegiados con el pago de viajes personales, el ofrecimiento de prostitutas de alto standing o cualquier clase de regalos. Todo, claro, con anterioridad al partido que debiera dirigir el árbitro en cuestión. Así ocurrió en los días previos a un Oporto-Academica, disputado en diciembre de 2002 y que ganó el equipo local por 4-1... Remontando en la segunda mitad un 0-1, con tres dianas en los últimos trece minutos y dos logradas de penalti. Dudoso.

En toda la documentación que pudo incautar la policía, el nombre del presidente del Oporto, Pinto da Costa, aparece en varias ocasiones, aunque no existe constancia pública de que José Mourinho estuviera al tanto de lo que ocurría... Si bien es curioso como encaminó su equipo algunas victorias ligueras de aquel curso 2002-03. Un penalti le ayudó a remontar ante el Gil Vicente, otro le dio la victoria ante el Moreirense y un tercero abrió un triunfo ante el Beira Mar. Además del encuentro ante el Académica denunciado por Paixao.

Las irregularidades quedaron impunes, las escuchas telefónicas se aceptaron como prueba y la mayoría de involucrados fueron absueltos, aunque la sospecha quedó en el aire. El Oporto no fue el único señalado pero, a la vista de sus éxitos de aquella época, la confesión de Paixao puede abrir una tormenta.»





E agora, o que dizer? Há que falar em Mourinho, ódio ao Mourinho por parte dos catalães. O Porto não tem nada que ver com estas historietas de cordel. Aliás, é de uma coincidência notável que 99 por cento das notícias sobre corrupção em Portugal estejam ligadas a este clube honrado, de adeptos dignos e dirigentes imaculados. Caso contrário, teremos o quê? Um clube que beneficia há 3 décadas do favorecimento das estruturas do futebol, particularmente da da arbitragem, ganhando em catadupa troféus adulterados, construindo equipas e mentalidade vencedora enquanto aniquila a hipótese de sucesso dos outros, que estende tentáculos que lhe permitem a completa impunidade legal, moral e política, transformando os seus adeptos numa massa generalizada cúmplice de crimes de corrupção, uma massa acéfala, perdida e anestesiada pelos êxitos desportivos, abdicando dos valores, dos princípios, da dignidade com que deviam analisar e criticar quem comete actos corruptos?

Não, não acredito. É tudo mentira. É o poder de Lisboa contra os briosos, de fina ironia e guerreiros nortenhos. Não pode ser para acreditar. É que se for para acreditar muita gente vai ter de meter um balázio nos cornos quando se aperceber da filha da puta da hipocrisia com que vivem uma vida de atrasados mentais. Já dizia o César Monteiro: "Rosarinho, minha filha, ao servires um gelado, nunca te esqueças que um dia também tu serás mãe".

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Vieira goleia António Ferro

Como benfiquista, considero-me uma pessoa atenta e razoavelmente inteligente para pensar uma estratégia para o clube. Não tenho formação em gestão ou em áreas parecidas, não conheço os meandros do futebol, desconheço politiquices corruptas e tenho muita dificuldade com a burrice extrema. Como é óbvio, não sirvo para gerir um clube. O que me causa preocupação, visto que, na última entrevista de Vieira, o nosso Presidente abordou os temas fundamentais da equipa de futebol da mesma forma com que este blogue os discutiu. Com uma ligeira diferença: enquanto Vieira os analisou a posteriori, neste serralho antecipou-se muitos meses antes a realidade com que hoje todos estamos deparados. E isto não diz da inteligência destes escribas; diz, antes, da absurda incompetência de quem gere o Benfica actualmente. 
Se um mero anónimo sem competências nem pretensões a cargos maiores do que o maior cargo a que aspiro e transporto com orgulho, o de ser sócio do Sport Lisboa e Benfica, analisa melhor a realidade benfiquista, antecipa melhor os problemas do futuro, dá melhores soluções, identifica as falhas e propõe melhores ideias para o clube do que quem gere os destinos do Benfica, então, meus caros, há sinais óbvios de preocupação. E há, com o conhecimento profundo que temos de 10 anos da (in)competência de Vieira, a noção de que nem os erros serão identificados nem as qualidades serão potenciadas. Porque, no fundo, o que falta a Vieira é um conceito tão simples quanto complexo de pôr em prática: uma estratégia consistente no tempo baseada na inteligência, na capacidade de trabalho, na idiossincrasia benfiquista e na capacidade para reconhecer mérito aos adversários. 

Discutamos, passo a passo, a entrevista de Vieira:

«Jorge Jesus merece a minha confiança e a de todos os benfiquistas. Não podemos ter a memória curta, deu-nos alguns títulos. Este ano as coisas não lhe correram da melhor maneira, é preciso tirar ilações e corrigir os erros. Tem grandes virtudes, os seus próprios defeitos, mas é um trabalhador nato, vive o projecto intensamente. Não podemos ser ingratos para quem trabalha desta maneira dentro do Benfica» 

Em primeiro lugar, dizer que para mim Jorge Jesus merece fazer mais uma época no Benfica. Isso não significa, porém, que aceite que o Presidente fale em nome de "todos os benfiquistas". Esta poderá parecer uma crítica estéril mas faz sentido fazê-la como demonstração do que é normalmente a premissa de discurso de Vieira: um todos por um para que ele não seja o visado quando as coisas correm mal; se correrem bem, o discurso passa a ter "eu" em doses industriais. 
Depois, as coisas não "lhe" (reparem que não LHE correram bem, não foi ao Benfica, foi ao Jorge Jesus, não foi ao Vieira, foi ao Jorge Jesus) correram bem por erros próprios, sim, mas principalmente por erros estratégicos de toda a Direcção, tanto nas acções como nos discursos. 
Por último, a questão da estratégia para a escolha de um treinador: um clube não deve decidir manter um treinador porque ele "deu-nos alguns títulos" (esta época, apenas um e menor), porque "é um trabalhador nato" ou "porque vive o projecto intensamente"; deve decidir manter o treinador porque o acha competente, mesmo que não dê títulos nenhuns. 
O discurso é, portanto e mais uma vez, focalizado nos pontos que nada interessam e olvida a mensagem correcta a deixar aos adeptos.

«Assumirá as culpas que tiver de assumir, eu próprio também cometi erros, e vamos continuar» 
  
Quais culpas terá de assumir Jorge Jesus? Não sabemos. Mas sabemos que teve culpas. Já o Presidente, ele próprio (repare-se na expressão "eu próprio", que remete para uma espécie de divindade que, apesar de acima dos homens, "também" consegue ser humilde e detectar pequenas culpas, pequenos erros, embora muito menos nefastos do que os do treinador) cometeu pecadilhos. Quais? Não sabemos. Mas... "vamos continuar". Para onde?, pergunta-se. Não sabemos. Mas vamos continuar. A fazer o quê, as mesmas borradas que se fizeram esta época? Não fazemos ideia. Mas sabemos de uma coisa: vamos continuar.

«Há um percurso longo para percorrer com o nosso treinador. Se não estivesse convicto que Jesus não será o treinador ideal, não estaria cá só por estar. É minha convicção que voltaremos a ganhar com ele!»

Afirmar, depois de uma época falhada, que há "um percurso longo para percorrer com o nosso treinador" é das coisas mais imbecis que se podem dizer. Não é motivação nem confiança para o treinador, é imbecilidade pura e dura, é afirmar que, corra como correr o trabalho de Jorge Jesus, o Benfica vai continuar a contar com ele. É permitir o relaxamento e não fomentar a responsabilização e a necessidade de mérito. 
Mas podemos dormir descansados: Vieira tem uma convicção. E portanto está tudo bem. Porque no passado as suas convicções (começo por qual das milhares de convicções de Vieira que acabaram no esterco?) foram convicções com sentido. Mas o discurso é inteligente, para os papalvos: Vieira acredita que voltará a ganhar, tem convicções e, como sabemos, há uma larga maioria de benfiquistas que compra as convicções do Presidente como pãezinhos quentes. E Vieira, sabendo disso e tendo por trás uma máquina que lhe debita o que deve dizer e harmonizar os corações encarnados, não perde a oportunidade de vender sonhos.

«Agora o que é normal nesta casa é que quando não se ganha entramos todos em depressão. Há uns anos, era normal. Agora, quando ganhamos, andamos constantemente em festa»

Ora cá está, meus senhores, o primeiro ataque velado aos adeptos! Palminhas, palminhas para o Presidente! É uma chatice, de facto: perdemos, deprimimos; ganhamos, andamos em festa. Se não fosse isso, esse atentado por parte dos adeptos, e Vieira poderia trabalhar de outra forma, ganhar mais coisas, sem os chatos dos adeptos ora a deprimir ora em euforias tontas. Vamos lá a ver se nos entendemos de uma vez: quando perdermos, devemos acreditar nas convicções de futuro de Vieira e não deprimir; quando ganharmos, não devemos andar em festa que é para não prejudicar os jogadores do Benfica, treinadores e dirigentes, que são muito influenciáveis e acabam a esquecer-se das obrigações. Está entendido? Ai, ai, ai.

«Criámos demasiadas expectativas. Eu próprio, também.»

A sério? Nunca pensei que dizer que o objectivo era a Champions fosse criar demasiadas expectativas. E, repare-se mais uma vez, "eu próprio, também". Ou seja: quem criou as expectativas não foi ele, foram outros. Mas ele próprio, ainda que menos, também deve ter criado qualquer coisinha. E ele próprio vem admitir isto, sim porque ele não cria expectativas normalmente, foi só a época passada e portanto agora admite que não conhecia bem os meandros do futebol e da realidade benfiquista. Afinal, só está no Benfica há 10 anos. Baby steps.

«Passámos demasiado tempo a celebrar o Campeonato.»

Extraordinário. A sério, isto é extraordinário. De uma forma assim tranquila, tu cá tu lá, vem o Presidente afirmar toda a incompetência de quem gere os destinos do clube, mas assim como se não fosse nada. "Olha pá paciência, somos uns incompetentes do caralho, cagámos nas funções para que fomos eleitos e andámos em festa, que se foda, para o ano há mais". Mas ainda deve haver quem leia nisto sinais positivos: "o Presidente admitiu que é um incompetente. Agora, sim, estamos no caminho certo!". Até porque, como todos sabemos, em 2005 não perdemos uma Taça de Portugal porque andámos uma semana a "celebrar demasiado tempo o Campeonato". Não, não, foi só desta vez. Estamos no rumo certo, agora.

«O plantel foi insuficiente para as expectativas que todos tínhamos. Veio-se a provar que não tínhamos o plantel ideal. Paralelamente, não nos preparámos convenientemente para a Supertaça, que marca o início da época desportiva. O facto de andarmos em festa constantemente distraiu-nos de como deveríamos preparar o futuro. Temos que assumir esses erros. O que vai mudar a sério é que o grau de exigência em relação a todos os profissionais do Sport Lisboa e Benfica vai aumentar. Eu próprio vou delegar muito menos»

Ah o plantel coiso e tal? Então mas... uma pergunta estúpida: quem é que constrói o plantel? Portanto, deixa ver se entendi: as expectativas eram muitas mas o trabalho para construir um plantel que correspondesse às expectativas foi pouco? Pois, compreendo. E porquê? Ah, sim, porque andávamos distraídos constantemente em festa (leram aqui mais um toque aos adeptos ou fui só eu?). Mas "temos que assumir os erros". Muito bem, Presidente. E vai mudar alguma coisa? Ah, claro, vai "aumentar a sério o grau de exigência em relação a todos os profissionais do Sport Lisboa e Benfica" - podemos então concluir que, passados 10 anos, o grau de exigência no Benfica ainda não é o máximo, é? E agora, Presidente, o que fazer? "Vou delegar menos". Medo.

«Sou o único responsável pelo que se passou esta época»

Então mas... o Jorge Jesus não tinha culpas? Os adeptos não tinham culpas? Afinal é o Presidente que toma as culpas todas? És grande, Vieira. Assume tudo, muito bem. E o que fazer por seres "o único responsável pelo que se passou esta época"? Delegas menos e fazes mais borrada. Faz sentido.


«Qualquer deles [Di Maria, Ramires e David Luiz] é grande jogador e está em grandes clubes e são todos internacionais. Mas o único insubstituível no Benfica que conheci é o Eusébio, é ele a minha marca», 

De ir às lágrimas. Esta deve ter tocado no fundinho dos benfiquistas. E o toque pessoal de Vieira? O Eusébio não é a "marca" do Benfica, é a "marca" de Vieira. Registada e tudo, logo a seguir às empresas de construção. Mas, Presidente, se ninguém é insubstituível, por que razão não vai dar uma volta ao bilhar da esquina?

[ainda sobre os trÊs jogadores] «quando se atinge determinado deslumbramento, torna-se difícil lidar, têm a ambição de ganhar mais, mais e mais».

Pois. E como no Benfica "ganhar mais, mais e mais" não acontece, porque "ganhar" cria logo uma euforia estupidificada, é melhor vendê-los. Genial.


«Há que encontrar situação de equilíbrio em que o Sport Lisboa e Benfica não seja prejudicado. E lembro que as mais-valias são significativas. Desde Simão e Manuel Fernandes o Benfica nunca mais tinha feito grandes transferências. Fiz o que acho melhor para o Benfica. Temos as contas equilibradas. Se formos confrontados, é um acto de gestão. A única coisa que posso adiantar é que vamos ser muito mais rigorosos nas aquisições»

Este excerto é o que se pode chamar de "clássico vieirista". Está lá tudo: defesa supostamente intransigente do Benfica, auto-elogio da supostamente boa gestão financeira e desportiva e promessa de mais inteligência para o futuro nas aquisições - o que, mais uma vez, faz admitir a incompetência total mas ele só lá está há 10 anos, calma. Gosto especialmente da frase: "se formos confrontados, é um acto de gestão". Eu, se matar um gajo e me chamarem a tribunal, direi o mesmo: foi um acto de gestão. Tive de gerir a minha sociopatia da melhor forma. 

«Vamos mexer, lógico. Esse maior rigor e exigência para o futuro vai existir, com certeza, determinado tipo de comportamentos vão ser alterados»

Lógico que vamos mexer. Devemos a nós próprios uma carnificina no plantel campeão. Um ano depois, já foram 4 titulares. Esta pré-época tem de servir para vender mais uns 3, pelo menos. E "vai existir maior rigor e exigência", ah pois vai! E "os comportamento vão ser alterados"! Quais, Presidente? Não sabemos. Mas vão ser alterados. Desta vez só vamos comprar 20 jogadores, emprestar só mais 10 e comprar mais 5 incompetentes. Baby steps.

«O plantel também tinha algumas carências. Teremos que ser muito mais cuidadosos no plantel, e vamos ser para que não tenhamos algumas lacunas», promete o presidente dos encarnados, exemplificando com a lesão de Salvio. «Se o Gaitán se lesionar, teremos problemas também. Na próxima época isso não vai suceder», garante»

Mas esta época, em Janeiro, falámos aqui nisso, Presidente. Com o Amorim lesionado, tínhamos de ir ao mercado, não falámos, Presidente? Foi feita alguma coisa? Não? Ah vendemos o David Luiz e enterrámos a época, como aqui também se disse, Presidente, foi? Mas vocês não lêem este blogue, Presidente? Se calhar é melhor. E acabámos em Braga sem soluções, com uma defesa fragilizada e a ter de meter o Menezes (by the way, virão mais desta qualidade?) no jogo mais importante dos últimos anos? Pois. Mas comprámos um médio quando vendemos o David Luiz, não foi? Sim, mas só para a próxima época. Está certo. O que vale é que "na próxima época isso não vai suceder". Afinal, que provas temos do contrário? 10 anos? O que é isso, Presidente? Estamos todos mais que tranquilos.


«O Benfica, durante toda a sua história, é um clube democrático, prova a sua vitalidade. Sinto orgulho porque há uma liberdade bastante grande, para isso contribui, porque devolvi clube aos sócios. Não estou agarrado à cadeira, nem alguma vez estive. Estarei cá enquanto o entenderem. No dia em que entenderem que não, sairei, e com a consciência completamente tranquila. O meu sucessor terá uma herança muito melhor do que a que recebi»

Pois não, claro que não estás agarrado à cadeira. Tu até antecipaste as eleições - nesse momento histórico para o clube - para evitar que alguns abutres te tirassem da cadeira. Tudo em nome do Benfica, tudo pelo Benfica. Porquê? "Porque o Benfica é um clube democrático". Exactamente, Presidente, exactamente.

«Tenho dado o melhor que sei e pensado em prol da instituição, com um erro aqui e ali, para o bem comum. Sou um homem livre e os benfiquistas são livres para escolher o que entenderem»

Ora um errozito aqui, outro errozito ali e as coisas afinal até se compõem. Ora uma comissãozita no Roberto aqui, outra no Alípio e Rodrigo ali, ora uma construçãozita em Madrid, outra com os companheiros Salvador e Oliveira ali e sei que tens dado o melhor que sabes pela instituição. E os erros - verdade vieirista em que devemos não só acreditar mas promover - servem "para o bem comum". Leram bem: um erro aqui e ali, para o... bem comum. A conta bancária é um bem comum do Vieira, da mulher e dos filhos, não é?

«Se fizer a pergunta à minha família, a resposta é que não me recandidato. Não é a altura própria, não vale a pena estarmos a especular sobre isso. Estou cá numa missão, quero levá-la até ao fim, nunca foi homem para deixar as coisas a meio»

Mais um clássico vieirista. Ele não quer está lá, está muito adoentado, sofre do coração, a família pede-lhe encarecidamente que volte a casa, mas tem uma missão e não é homem de deixar as coisas a meio. Um herói, no fundo.  

«Por minha vontade, Fábio Coentrão não sai, mas há uma cláusula de rescisão. Tudo iremos fazer para manter os principais jogadores, tudo faremos para reforçar a equipa. Queremos melhor, não queremos que as lacunas que tivemos se repitam. 
Agora quem fica ou sai...»

Isto, sim, deixa-me descansado. Nunca vi Vieira deixar sair os grandes jogadores por valores abaixo da cláusula de rescisão. Ele sempre prometeu isso e sempre cumpriu. Portanto, quanto a Coentrão estamos tratados: ou batem a nota ou não há cá Coentrão para ninguém! A menos que... ah pois, como com o Di Maria e o David Luiz, apareçam propostas irrecusáveis: assim do estilo 10 ou 15 milhões abaixo da cláusula de rescisão mas com excelentes jogadores metidos no negócio e uns objectivos inexplicados aos adeptos. Porque "não queremos que as lacunas que tivemos se repitam". E depois logo se verá. Dito isto, digo "agora quem fica ou sai" e deixo em suspenso. Genial, Presidente, genial.

 «Já manifestou que quer continuar no Benfica. Na altura certa de negociar, e ela há-de chegar, é natural que todos tenhamos que fazer um sacrifício para o Salvio continuar no Benfica»
Eh lá, o Presidente anda a aprender umas coisas com o Governo: se há erros próprios (assim tipo: Roberto por 8,5 milhões) e ficamos na merda, como é que mantemos os melhores? Hmmm, deixa cá ver: já sei, dizemos que tentaremos o Salvio mas só se "todos" fizermos "um sacrifício". O que é que vai aumentar? As quotas, os bilhetes ou os dois?

«Peço a todos que não comecem a gritar que vamos ser campeões. O próximo jogo é uma final, vai ser esse o nosso pensamento. Internamente é isso que se vai dizer, e toda a massa associativa deve pensar assim também. Não há campeões feitos antecipadamente, já pagámos algumas facturas caras por pensarmos assim. Tenhamos todos os pés no chão, sejamos humildes, respeitemos todos os nossos adversários, porque eles nos vão respeitar»

Certo, Presidente, só acho mal que exponha assim o Benfica em praça pública. Esse discurso não é para os adeptos, presidente, é para as reuniões que mantém com os incompetentes que lidera. Mas é capaz de ser difícil conseguir resultados quando tem gente na estrutura para quem "o Porto é uma religião". Não sei, digo eu.

«Nesta filosofia, o meu compromisso é o de que iremos ter uma equipa preparada: o próximo jogo será sempre o mais importante. Depois no fim se ganhará. Lógico que temos a ambição de ser campeões, agora antecipadamente dizermos que vamos ser campeões é que não pode continuar»

Pois não pode, não. Eu diria mais: uma Direcção que ganha tão pouco, que mente tão descaradamente aos seus adeptos, que é tão incompetente, que antecipa eleições para que a concorrência não se organize, que repete à náusea as mesmas mentiras e promessas ano após ano já lá vão 10 anos "é que não pode continuar". Mas isto sou eu.